
Associação de Mulheres Rurais de Chã dos Pereira
As mãos que criam, criam o que?
O Labirinto é um trabalho de agulha que fica no limiar entre renda e bordado - isso porque ainda utiliza a estrutura do tecido, como um bordado, porém seu ornado resultado final assemelha-se a uma renda.
Pouco se sabe sobre sua "origem", porém habita as terras de Ingá desde os tempos que a memória alcança. Os relatos das labirinteiras puxam lembranças de suas mães e avós envoltas nas linhas e lida do cotidiano. A técnica e os padrões remetem aos trabalhos de origem européia que, ao longo das décadas em território paraibano, tornou-se única.
Para trabalhar com o labirinto é preciso, antes de mais nada, de um tecido que desfie bem. Sobre a base é feito o risco, com auxílio de uma carretilha e lápis. Depois, inicia-se a etapa do "desfiamento", quando, com auxílio da agulha e da navalha, os fios são contados, puxados e cortados até que do pano sobre somente parte de sua estrutura. Sobre os fios restantes, o "enchimento" é feito com agulha e linha e retecido, formando padrões rebuscados, como ramos e flores. Depois é hora de "torcer" e "perfilar" para que o desenho fique completo.
Quem cria?
A tradicional técnica têxtil é conhecida pelas labirinteiras há pelos menos três gerações. As artesãs que são também agricultoras, cuidam da casa e do roçado. São mulheres que encontraram no desfiar e bordar fonte de renda complementar à produção agrícola de subsistência.
A Associação das Mulheres Rurais de Chã dos Pereira foi fundada no início dos anos 90 por 12 mulheres. Como Toinha, mestre labirinteira que era ícone do grupo, gostava de afirmar, foram as 12 apóstolas que deram início à construção do que seria a estrutura para muitas. Hoje, Toinha há faleceu, mas suas 60 discípulas seguem associadas e vendem seus trabalhos em feiras de artesanato em todo o país.
Onde Criam
Ingá é um município do estado da Paraíba a 100 km da capital João Pessoa e pouco mais de 30 km de Campina Grande. Pela proximidade das duas maiores cidades do estado, os habitantes têm maior acesso ao ensino superior e a um comércio amplo.
O município conserva um grande mistério: suas itacoatiaras: inscrições rupestres em pedras, muito provavelmente feitas pelos indígenas que habitavam a região muito antes da chegada dos primeiros colonizadores europeus no século XIX. O sítio arqueológico à beira do rio Ingá foi tombado pelo Iphan como Patrimônio Nacional em 1944.
O distrito rural de Chã dos Pereira dista 13 km da sede do município e tem uma população de pouco mais de 2.000 habitantes. As principais fontes de renda são a agricultura de subsistência, criação de caprinos e bovinos, benefícios do governo como aposentadorias e bolsa família e o artesanato.
Além de fonte de renda, o labirinto constitui a identidade cultural e histórica da localidade, uma vez que enreda em laços afetivos o envolvimento com o trabalho, a formação e sustento de famílias, a valorização da cultura e memória local. Foi através do trabalho que muitas mulheres sustentaram a casa, vendo crescer a família.
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