Associação das Bordadeiras Rurais de Serra das Araras (Central Veredas)

Localização Rua São Francisco, s/n - Chapada Gaucha/MG - CEP 39314-000
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Contato Monique (os contatos devem ser feitos preferencialmente via whatsapp)

As mãos que criam, criam o que?

“Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior.“

Trecho do livro Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa.

No sertão mineiro, as palmeiras de buriti integram a paisagem, sempre nas margens das veredas, voltadas para os espelhos d’água que refletem sua beleza e graça. “Buriti” é uma palavra de origem tupi-guarani que significa “árvore da vida”. O buriti é uma palmeira de grande importância para diversas etnias indígenas em muitas regiões do Brasil, onde se encontra presente. Com ela é possível construir casas e outros objetos presentes no cotidiano, se alimentar e ainda se curar de enfermidades, pois tem ação cicatrizante e vermífoga, por exemplo.

E é com os talos das folhas, que as artesãs de Serra das Araras produzem brinquedos, quadros de parede, caixas decoradas com tampas bordadas, além de outras peças bordadas, como saquinhos, cortinas, entre outras. A coleção “Árvores do Cerrado”, criada a partir de desenhos da fauna e da flora da região do Vale do Urucuia, traz, por exemplo, a presença dos ipês, árvore emblemática do Brasil, do araticum, baru, buriti, entre outros.

Quem cria?

A Associação das Bordadeiras Rurais de Serra das Araras integra a Central Veredas, junto a outras nove associações interconectadas. A formalização dos grupos é resultado de um trabalho desenvolvido em 2005 pela Artesol junto às artesãs da região. O projeto estimulou as comunidades a olharem para as suas tradições e reconhecerem sua riqueza e valor. Foram oferecidas oficinas de capacitação, associativismo entre outras. O grupo conta hoje com cinco associadas em atividade.

Desde a formalização do grupo, as artesãs passaram a vivenciar momentos importantes, como a realização dos mutirões, em que se reúnem com outras fiandeiras para fiar o algodão, cantando ao som do chiado da roca as cantigas de trabalho. Também as diversas viagens proporcionadas pelos parceiros, além dos convites para apresentações culturais.

As artesãs de Bonfinópolis de Minas, Serra das Araras/Chapada Gaúcha e Natalândia receberam as oficinas de capacitação em bordado realizadas pelo Instituto Dumont que as estimulou a bordar as belezas e singularidades do lugar.

A Associação de Artesãos de Serra das Araras integra a Central Veredas, organizada em Rede Solidária compreende outros 9 núcleos de produção instalados nos municípios de Arinos, Natalândia, Bonfinópolis, Buritis, Riachinho, Sagarana/Arinos, Uruana de Minas, Barra do Pequi e Urucuia. Com a participação solidária de artesãos, constituiu parcerias para consolidar a sua estrutura e fortalecer os núcleos, garantindo-lhes acesso ao mercado, qualificação, aplicação de preços justos, divulgação dos produtos artesanais, fruto do trabalho de aproximadamente 146 associados, exercendo sua defesa socioeconômica e ambiental combatendo os trabalhos escravo e infantil e promovendo a igualdade de gênero.

Onde criam?


Serra das Araras é um povoado do município de Chapada Gaúcha, Minas Gerais que surgiu no final do século XVIII e princípio do século XIX, com moradores da família “Bito”, descendentes de escravos vindos da região de Tremedal, atual Monte Azul. Segundo uma antiga história contada pelos moradores de Chapada Gaúcha, foi encontrada aos pés da Serra das Araras, na “Gruta do Coração”, a imagem de Santo Antônio que logo foi levado para a casa de um dos moradores. Por conta da humildade da casa, a imagem foi logo levada para a cidade de São Francisco, onde seria colocada na Igreja. Entretanto, de forma misteriosa, a imagem voltou para seu local de origem, o que motivou os moradores a construírem uma capela de palha para abrigar a Imagem do Santo.

Logo a história se propagou e a região começou a receber muitos devotos e romeiros. O povoado foi crescendo e hoje nele acontece uma das maiores romarias do Norte e Noroeste Mineiro. A Imagem de Santo Antônio foi declarada Patrimônio Histórico e Material em 2002, e a Festa e Romaria de Santo Antônio de Serra das Araras foi registrada como Patrimônio Imaterial em 2009.

Localizada no vale do Urucuia, o rio do amor de águas verdes, como os olhos de Diadorim, personagem de outra obra de Guimarães Rosa, Sertão: Veredas, a região conta com áreas de cerrado e mata seca. As veredas são os grandes protagonistas do cenário paisagístico da região e trazem aos sertanejos importantes possibilidades de sustento, como os buritis. As veredas são um subsistema do bioma de cerrado, cuja principal característica é a presença de água que formam caminhos aquosos em meio ao solo pantanoso.

Muitas veredas têm desaparecido com o aumento do desmatamento e o uso abusivo da água pelo agronegócio, o que tem impactado, por exemplo, o plantio do algodão crioulo, do qual viviam várias famílias. O incentivo, nesse sentido, ao artesanato na região como possibilidade econômica, estimula a produção do algodão, e também levanta a urgência de um debate responsável em torno do agronegócio, e de medidas mais eficazes para o controle ambiental da região.

 

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