
Associação das Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro - AMARN

As mãos que criam, criam o que?
“O que nós fazemos está presente em muitos países. Não é apenas uma peça que alguém compra e leva. É um pouco da nossa história, do nosso jeito de ser no mundo que vai ocupar outros lugares, gerar perguntas, curiosidades. Temos que valorizar muito essa atividade.”
Deolinda Freitas Prado (nome indígena: Dhiakrapú), liderança indígena e fundadora da Associação.
As mulheres indígenas trabalham com técnicas diversas, como cerâmica, tecelagem e trançado de fibras naturais de tucum e arumã, palmeiras nativas da região norte do país. Além das palmeiras, utilizam a argila, penas, sementes de pucá, açaí, olho-de-boi, tucumã, entre outras. Com esse rico e diverso material que colhem nas matas amazônicas e que manejam de forma respeitosa e sustentável, produzem porta-joias, cestos, potes, bolsas, brincos, colares, pulseiras, entre outros objetos.
Quem cria?
Foto: Júlio Ledo
A Associação das Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro, AMARN, também chamada de Numiã Kurá que na língua Tukano significa "Grupo de Mulheres", começou a ser gerida em 1984 e em 1987, finalmente se formalizou. O grupo foi organizado com o intuito de promover oportunidades de geração de renda, qualidade de vida e formação sociopolítica para as mulheres indígenas que viviam em situação de isolamento. Muitas haviam sido levadas até Manaus para trabalharem como empregadas domésticas, sem direito a folgas e, por vezes, sem receber salário.
A Associação instaura um trabalho valioso de articulação e mediação entre as mulheres indígenas com os homens indígenas e com os patrões e os outros moradores de Manaus. As atividades culturais e a criação de um espaço, onde as mulheres podem ser elas mesmas, fortalecem suas raízes culturais do Alto Rio Negro e lhes proporcionam mais força para enfrentar os inúmeros desafios de ser mulher indígena.
A AMARN é uma das mais antigas organizações indígenas do Amazonas e do Brasil e esteve presente na criação da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira - Coiab - que mais tarde se tornou o maior e mais forte articuladora das lutas indígenas em território nacional e a nível internacional.
Onde criam?
Foto: Julio Ledo
As décadas de 1980 e 1990 foram marcadas pelo incício de uma mobilização indígena que se firmaria enquanto lugar de resistência e luta pelos direitos de seus povos. É na Amazônia brasileira que nasce a maior parte das organizações de mulheres indígenas, entre elas a AMARN. Esses grupos se caracterizam por integrar diferentes povos de uma mesma região, por vezes com caráter multi-étnico.
As mulheres indígenas têm marcado presença cada vez mais, estando atuantes em encontros e conferências nacionais e internacionais promovidos por organizações indígenas, instâncias estatais e não governamentais. Esses eventos são importantes espaços de debate e deliberação para os povos indígenas sobre as questões que enfrentam com relação ao território, saúde, educação e meios de sobrevivência, além de ser onde podem pensar as relações com os diversos segmentos da sociedade civil.
A presença das mulheres indígenas nesses eventos coloca na pauta as suas reivindicações que trazem sempre uma perspectiva de gênero, como a violência contra a mulher. Sua presença, assim, marca seu envolvimento e força nas lutas junto ao movimento nacional e, ao mesmo tempo, aponta para questões que são parte de um debate mais amplo e que as conecta aos movimentos pelos direitos da mulher. O pertencimento étnico das mulheres traz para a questão de gênero um desafio tanto para elas, como para o movimento indígena e organismos estatais e não governamentais.
Entre as mulheres indígenas, é expressiva a presença de professoras e de profissionais da área da saúde. Sua contribuição é central para a formação política de outras mulheres que se fortalecem e compreendem melhor as estratégias de ação junto à esfera pública, na troca de experiências. Os movimentos de mulheres indígenas, dessa forma, fortalece tanto o movimento indígena de forma geral, como alimenta uma mobilização mais ampla pela Vida, sustentabilidade e contra a violência familiar.
Rede nacional do artesanato
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