
Café Igaraí Artesanato

As mãos que criam, criam o que?
Foto: Lucia Dias
“Para fazer um bom café, meu bem,
como se faz lá no Brasil
precisa ter um bom café, também,
como se tem lá no Brasil
Uma frutinha vermelha
Que as moças colhem no pé
E quando é bem torradinho
Fica pretinho e cheiroso
Como ele é, lá no Brasil
Como ele é, lá no Brasil”
Música de Cyro Monteiro
O café, que cativou o coração e o paladar do mundo, e seu processo de produção são as grandes inspirações para as artesãs de Igaraí. As mulheres trabalham com três técnicas, principalmente: bordado, tingimento natural e pintura em porcelana. A costura e o crochê também estão presentes. As toalhas de mesa com a história do café são um dos objetos que mais chama a atenção. Com o ponto livre, ou bordado da vovó, as artesãs fazem também outros utensílios domésticos, como guardanapo, avental, pano de prato, caminho de mesa, entre outros, além de almofadas e quadros com cenas de fazendas e desenhos, como das aves que vivem entre os cafezais.
Para o tingimento, as mulheres utilizam a palha, pó de café reciclado, folhas de pata-de-vaca, amora, ipê, jacarandá entre outras plantas típicas da região. As porcelanas são pintadas com riqueza de detalhes, realismo e delicadeza, explorando as imagens dos grãos, ramos e frutos dos pés de café. As cores trabalhadas com o tingimento natural também remetem ao universo da lavoura do café, como o branco, o cru, o marrom, o preto e tons terrosos.
Quem cria?
Foto: Lucia Dias
Nessa terra que acolheu as plantações de café, as artesãs trabalharam por muitos anos na "panha de café", como se referem à colheita do grão. Donas de mãos fortes que carregam marcas de histórias dos cafezais, as quatro artesãs de Igaraí aposentaram as enxadas e pás e ficaram com linhas, agulhas e pincéis.
O projeto Café Igaraí nasceu do desejo de estimular uma atividade que pudesse gerar renda para as mulheres fora da época da colheita do café. Com o apoio do Sebrae e da comunidade de Igaraí, incluindo alguns fazendeiros e autoridades locais, o projeto teve início em 2006. Ao longo desse ano e de 2007, um grupo de cerca de vinte artesãs recebeu cursos de capacitação e aprimoramento com Renato Imbroisi, designer de artesanato que trabalha em parceria com comunidades artesãs brasileiras.
Hoje, a produção de artesanato traz para as quatro mulheres que seguiram com o projeto e suas famílias, uma importante fonte de renda, através da união dos conhecimentos tradicionais, que lhes foram passados por suas mães, com a cultura do café, da qual são parte.
Onde criam?
Igaraí é uma vila, subdistrito de Mococa, região metropolitana de Ribeirão Preto, nordeste do estado de São Paulo, quase divisa com Minas Gerais. É uma vila rural formada por trabalhadores das fazendas de café que existiam na área. Conta-se que Igaraí nasceu de uma área doada por um fazendeiro que tinha propriedades na região. O fazendeiro também doou recursos para a construção da capela de Nossa Senhora da Luz. Ao redor da capela, começou a nascer o povoado de Nossa Senhora da Luz das Canoas, nome que fazia referência ao rio Canoas. Apenas 50 anos mais tarde, o povoado passaria a ser conhecido como Igaraí, que em tupi-guarani significa "canoa pequena".
Grande parte da população de Igaraí vive na zona rural e trabalha nas fazendas com a colheita do café. As lavouras de café e cana-de-açúcar e a produção leiteira são as principais atividades econômicas da região, inclusive para as pessoas que vivem na área urbana. Existem duas fábricas no distrito, uma de biscoito de polvilho, considerado um dos melhores biscoitos da região, e uma fábrica de canudos de doce de leite, doce típico da região.
Com o declínio das lavouras de café, e ainda com o período de entressafras, muitos ficam sem trabalho durante boa parte do ano. Além disso, os trabalhos são ocupados, em maior parte, pelos homens, sendo poucas as mulheres que possuem emprego fixo.
Rede nacional do artesanato
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