
Associação dos Artesãos de Urucuia (Central Veredas)

As mãos que criam, criam o que?
"Antes, em prazos idos, o buriti-grande se erguera bem na beira, de entrelaço com seus grandes irmãos, como agora os outros mais novos, com o pé quase na água - o que desejam os buritis sempre."
João Guimarães Rosa
No sertão mineiro, as palmeiras de buriti integram a paisagem, sempre nas margens das veredas, voltadas para os espelhos d’água que refletem sua beleza e graça. “Buriti” é uma palavra de origem tupi-guarani que significa “árvore da vida”. O buriti é uma palmeira de grande importância para diversas etnias indígenas em muitas regiões do Brasil, onde se encontra presente. Com ela é possível construir casas e outros objetos presentes no cotidiano, se alimentar e ainda se curar de enfermidades, pois tem ação cicatrizante e vermífoga, por exemplo.
Trançar a palha do buriti é fazer artesanal tradicional do lugar. Há várias gerações com ela se fazem balaios, cestas, peneiras, redes e esteiras. As caixas trançadas, de vários tamanhos e modelos, transformam-se em embalagens para diferentes produtos. A caixa de Urucuia foi um dos vencedores do Prêmio Planeta Casa 2003, na categoria produtos. Para as caixinhas produzidas pela associação de Urucuia, utiliza-se de maneira sustentável o braço ou a casca da palmeira.
Para produzir os trançados, os artesãos utilizam o braço da palmeira ou a casca para poderem fazer caixas de tamanhos e modelos variados que servem tanto como embalagem para os doces como caixas para uso em geral. O uso da matéria-prima é sustentável, o grupo é bastante atento com a questão da preservação ambiental. Somente o braço do buriti é utilizado para a produção das caixas, por ser a folha seca que a palmeira descarta. Assim, a planta não é agredida.
As ferramentas utilizadas para realização do trabalho são: faca, podão, facão, esquadro, cegueta, lixas, régua, trena e foice. Não houve nenhuma mudança nestes materiais desde a união do grupo até atualmente.
A produção é divida entre os artesãos que sabem fazer o doce e os que lidam somente com a confecção de embalagens. O grupo possui sede própria, adequada para a produção das embalagens e para a produção dos doces.
Quem cria?
Atualmente, os trançados de palha de buriti são adaptados para dar forma a embalagens de doces feitos com frutas da região, por um grupo de cerca de 6 mulheres, organizadas na Associação dos Artesãos de Urucuia. Além da utilização dos trançados tradicionais para novos usos, também são feitas embalagens diferenciadas com caixetas de talos de buriti. A produção de doces estimulada pelo projeto do Artesanato Solidário, que ofereceu cursos de treinamento, aproveita as frutas existentes na região e, ao utilizar como embalagem cestos e caixas de buriti, associa um novo saber à valorização de uma tradição local.
A Associação das Artesãs de Urucuia integra a Central Veredas, organizada em Rede Solidária compreende outros 9 núcleos de produção instalados nos municípios de Arinos, Natalândia, Bonfinópolis, Buritis, Riachinho, Sagarana/Arinos, Uruana de Minas e Barra do Pequi. Com a participação solidária de artesãos, constituiu parcerias para consolidar a sua estrutura e fortalecer os núcleos, garantindo-lhes acesso ao mercado, qualificação, aplicação de preços justos, divulgação dos produtos artesanais, fruto do trabalho de aproximadamente 146 associados, exercendo sua defesa socioeconômica e ambiental combatendo os trabalhos escravo e infantil e promovendo a igualdade de gênero.
Onde criam?
Às margens do rio homônimo está Urucuia, cidade do extremo noroeste de Minas Gerais, com população de pouco mais de treze mil habitantes, segundo censo IBGE de 2010. As veredas, que Guimarães Rosa imortalizou em seu romance, são uma das principais características da região, e nelas brota o buriti, palmeira de variadas utilidades que fornece a matéria-prima com a qual as mulheres produzem utensílios de uso cotidiano e cujo manejo sustentável representa uma das ações locais da Artesol, em parceria com o IBAMA.
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