
Associação das Artesãs do Pontal do Coruripe

As mãos que criam, criam o que?
Seu trançado
brinca com as cores do mar
e das Alagoas tão cheias de cor
nas noites iluminadas
a luz do luar faz pousar desenhos
nos ares do Pontal
cor de palha, textura de linho, som de espuma, saudades de mais...
Raquel Lara Rezende
A técnica do trançado ganha formas e cores muito especiais com o trabalho das artesãs de Coruripe com a palha de Ouricuri, palmeira nativa da caatinga. As mulheres produzem grande variedade de objetos com a palha, desde cestaria e utensílios de cozinha, até peças decorativas, como mandalas e luminárias. O tingimento da palha também é feito pelas artesãs. A tradição do trançado com essa palha foi passada às mulheres quando ainda crianças. Assim, entre as brincadeiras e os estudos, o dia-a-dias das das crianças, que hoje são artesãs, foi sendo colorido com o fazer dos trançados.
O processo de produção é um exemplo de possibilidade de desenvolvimento sustentável que gera renda para a comunidade a partir do manejo de matérias-primas renováveis com o saber tradicional. O artesanato com a palha de Ouricuri garante o cuidado com o ecossistema local que pode ser facilmente degradado com práticas exploratórias. Assim, o trabalho das artesãs de Coruripe é primordial para o meio ambiente e para as futuras gerações.
Quem cria?
A associação surgiu em 1999, mas o trabalho com a palha da de ouricuri já existia há muitos anos. A motivação para a formalização veio com uma grande encomenda que algumas artesãs receberam. Dezenove mulheres então se juntaram para atender ao pedido e buscaram apoio na Prefeitura e no Sebrae de Alagoas que as auxiliaram nesse processo. O prédio, onde funcionam hoje a oficina e a loja, foi cedido pela Usina Coruripe, uma parceira da associação. A partir do Sebrae, as artesãs tiveram acesso a importantes capacitações, como de precificação e de criação de novos produtos.
Saiba mais:
- “Estudo sobre as comunidades indígenas de Alagoas”, pelo Governo de Estado de Alagoas.
Onde criam?
A palha de Ouricuri é trançada no balanço das ondas de Pontal do Coruripe, no município de Coruripe, nome também do rio que deságua no oceano Atlântico. Coruripe é uma palavra indígena da etinia Kaeté. Tratava-se de uma etnia bem numerosa de valentes navegantes que vivia na margem esquerda do Rio São Francisco.
A história do estado de Alagoas anda de mãos dadas com a história da invasão do Brasil pelos portugueses. E Coruripe é conhecida por um episódio que dizem ter desencadeado um grande massacre do povo Kaeté. Conta-se que em 1556, o navio que levava o bispo dom Pero Fernandes Sardinha para Portugal naufragou de frente para a enseada, conhecida hoje como pontal do Coruripe. O bispo teria sido morto e devorado pelos kaetés que eram uma etnia antropófoga. Em retaliação, os portugueses fizeram uma expedição guerreira que dizimou a tribo, escravizando os poucos sobreviventes. Após esse triste episódio, outras etnias sofreram com a guerra de extermínio, como os kariris, potiguaras, xocós, abacatiaras, vouvés, romaris, entre tantas outras.
Mesmo com o esforço genocida e etnocida, as heranças indígenas seguem vivas nos fazeres e saberes de muitos moradores, como o trançado, e na alimentação à base principalmente de macaxeira. Também a presença de comunidades de remanescentes quilombolas é muito marcante no estado de Alagoas de forma geral, onde os grandes canaviais foram por muitos anos o cenário onde se desenrolaram importantes histórias de morte, escravidão, mas também resistência, luta e esperança. A produção de açúcar em Alagoas teve um papel central, desde os primeiros séculos de colonização, em sua formação.
Em Coruripe o açúcar também foi muito presente, entretanto hoje o município também é conhecido pela beleza singular de suas praias e lagoas, entre elas Pontal de Coruripe, o que tem atraído cada vez mais turistas. A cidade ainda conta com o encanto das festas tradicionais de de Bom Jesus dos Navegantes, da padroeira Nossa Senhora da Conceição e de São Sebastião, além do Festival do Côco.
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