Coleção Prisma: A marchetaria de Sertãozinho para a marca Artiz
Bolsas da coleção Prisma, desenvolvida pela Artiz em parceria com a Ramas e a artesã Geiza Santos.
Pensar um produto como síntese e representação da tradição do ofício de um artesão é como uma tentativa de impulsionar a gênese do trabalho através de uma pequena fração do que aquela técnica pode ser e gerar. É neste processo que o design se alia ao artesanato, na tentativa de estabelecer laços e alavancar possibilidades, ampliando horizontes e exercitando as possibilidades que o feito à mão pode alcançar.
Foi através de uma iniciativa da Artiz, espaço de negócios da Artesol, que nasceu a ideia de mergulhamos em uma pesquisa e seleção de artesãos brasileiros para o desenvolvimento de uma série de coleções assinadas pela marca. O projeto nasce por meio da vontade de buscar novas perspectivas para o artesanato nacional, gerando renda e divulgação para o trabalho autoral e tradicional de tantos criadores do nosso país. Gostaríamos, assim, de explorar as possibilidades que as diversas técnicas e materialidades do artesanato podem alcançar a partir de conexões com artesãos, mestres, designers e artistas populares.
A busca pelas técnicas, produtos e ofícios tem origem no exercício de conexão com os membros da Rede Artesol, projeto de mapeamento e articulação da cadeia produtiva do artesanato brasileiro, que nos guiou como ferramenta de pesquisa para irmos de encontro aos grupos, cooperativas e associações integrantes do projeto.
Em uma operação integralmente realizada à distância, durante o período da pandemia do novo coronavírus, o uso da Rede (projeto) e da rede (internet) e seus artifícios foram indispensáveis para a comunicação e desenvolvimento de ideias e soluções. A necessidade de criar à distância, sem a possibilidade do encontro e a sensibilidade do toque, foi, sem dúvida, um desafio a ser vencido. Toda a coleção foi concebida e desenvolvida respeitando as diretrizes de isolamento social e resguardando a integridade de todos os artesãos envolvidos. Por meio de mensagens, fotografias e vídeos, desenvolvemos novas formas de diálogo e compreensão, abraçando as adversidades e compreendendo os obstáculos que o momento impõe, sem deixar de buscar os objetivos propostos e resultados esperados.
Pai e filha, Augusto e Valéria Zanini, de Sertãozinho (SP) especialistas na técnica da marchetaria.
O nome que batiza a primeira coleção Artiz, “Prisma”, traduz o desejo da marca de explorar perspectivas cada vez mais plurais sobre a produção artesanal brasileira, jogando luz sobre os artesãos e mestres, destacando seu legado artístico, suas referências estéticas, sua capacidade de se reinventar e encontrar novos caminhos para perpetuar seu trabalho ancestral.
Fruto de uma minuciosa curadoria de trabalhos selecionados a integrarem as coleções, o ofício de Augusto e Valéria Zanini, nos chamou atenção. Pai e filha, que juntos desenvolvem produtos utilizando a técnica da marchetaria, são os idealizadores do grupo Ramas, situado no interior paulista, na cidade de Sertãozinho. A dupla trabalha principalmente com acessórios de moda, criando imagens coloridas através das lâminas de madeira natural que se encontram nos precisos encaixes da tradicional técnica artesanal.
O ofício, que começou como um hobby para Augusto, quando ele confeccionava caixas, quadros e outros pequenos objetos para presentear família e amigos, vem ganhando cada vez mais espaço na vida dos artesãos depois que Valéria percebeu o potencial de transformar o passatempo do pai em negócio. Hoje, ambos dedicam tempo, esforço e criatividade para a confecção e montagem das bolsas de madeira que retratam paisagens, arabescos e composições abstratas.
A marchetaria é uma técnica de ornamentação de superfícies planas através da criação de desenhos com a aplicação de diferentes materiais, especialmente lâminas de madeira. Foto: Arquivo pessoal
Composição, forma, cor, textura, desenho e acabamentos, foram alguns dos itens que estabelecemos como prioridade no desenrolar do projeto. A ideia era não somente pensar caminhos para o traço, mas também para tudo a sua volta. Neste movimento, convidamos a artesã baiana Geiza dos Santos, para produzir alças da bolsa que poderiam ser usadas também como colar. Geiza tem um trabalho consolidado de produção de biojoias a partir de madeira e sementes da sua região, no sul da Bahia. O trabalho da artesã veio para acrescentar cuidado e beleza às bolsas através de alças e acabamentos feitos em contas de sucupira, alandi e imbaussu. Além disso, essa articulação cria um novo repertório de possibilidades de intercâmbio e colaboração entre produções distintas que juntas podem abrir novos caminhos.
Detalhe interno da Cluth que integra primeira coleção exclusiva da marca Artiz. Foto Theo Grahl
Por fim, o cuidado na escolha de aviamentos e ferragens é um diferencial. A seleção de peças de qualidade, com banho em verniz antiferrugem e hipoalergênico, trazendo a opção de alça tiracolo em corrente dourada, arrematam as escolhas minuciosas para a composição dos detalhes da peça que valorizam o trabalho dos artesãos envolvidos.
A coleção Prisma, é, portanto, resultado de uma ação que nasce pelo encontro, desenvolvida em colaboração, encontrando caminhos e soluções conjuntas, onde os limites entre técnica e criação se dissolvem e permitem uma integração orgânica entre os dois universos, abraçando técnicas e matérias distintas, encontrando possibilidades e estabelecendo conexões. Prisma é a primeira coleção da etiqueta Artiz, que concentra suas ações no exercício de colocar em prática os pilares de um mercado justo dentro de uma cadeia consciente, usando o design como ferramenta para a celebração do feito à mão.