O slow fashion e o comércio justo

Com que roupa eu vou? Para você qual importância da valorização do design autoral, do movimento slow fashion e do consumo consciente na hora de escolher o look?
Camila Fróis e Mariana Maria

Foto: Peça de divulgação da marca  Morada, que atua com bordado labirinto de artesãs da Paraíba e tingimento natural com pigmentos da caatinga 

Já parou para pensar que escolher o que vestir vai muito além de simplesmente cobrir o corpo? É uma escolha política que reflete nossos valores e ideias. E por isso, é fundamental que levemos em conta a forma como nossas roupas são produzidas e os impactos que esse processo pode gerar no meio ambiente e na vida das pessoas envolvidas.

Por isso, é fundamental que levemos em conta a forma como nossas roupas são produzidas e os impactos que esse processo pode gerar no meio ambiente e na vida das pessoas envolvidas na indústria da moda. Em meio à polêmica sobre a tributação de gigantes chinesas do mundo da moda, como a Shein e outras marcas do fast fashion que lucram com o trabalho escravo, é importante pensar qual modelo de produção e consumo queremos financiar. O fast fashion, especialmente o chinês, que concorre com a produção nacional e artesanal, fez da indústria da moda a segunda mais poluente do mundo, devido à utilização de tinturas e tecidos de baixa qualidade; produtos insolúveis e à base de metais pesados; contribuindo para toneladas de emissões diárias de carbono para a atmosfera e o aumento substancial de plástico nos oceanos.

Além dos impactos para o meio ambiente e as mudanças climáticas, é preciso reforçar a gravidade do uso desenfreado da mão de obra análoga à escravidão na indústria da moda, inclusive pela Shein. Ao infiltrar um repórter em uma das fábricas da Shein em Guangzhou, na China, o documentário Inside Shein Machine: UNTOLD, revela as condições de trabalho da marca: jornadas diárias de 18 horas, em que os trabalhadores costuram, em média, 500 peças de roupa por dia, com direito a apenas uma folga mensal. Cada funcionário ganha cerca de R$ 0,20 por peça produzida.

No contraponto desse modelo, o Slow Fashion é uma alternativa sustentável que preza pela diversidade; prioriza o local em relação ao global; promove consciência socioambiental; contribui para a confiança entre produtores e consumidores; pratica preços reais que incorporam custos sociais e ecológicos e mantém a produção em pequena e média escala.  Para esclarecer essa prática, entenda a proposta do Slow Fashion:

Valorizar recursos locais

O movimento prioriza a produção local como forma de resistir contra a avalanche da globalização. para isso, valoriza consumidores, produtores, recursos naturais e saberes locais, como as técnicas artesanais, se contrapondo à tendência de padronização da moda. Dessa forma, a moda movimenta a economia local e não apenas gera lucro pra grandes marcas internacionais. 

Promove sistemas de produção transparentes

No modelo Slow Fashion, a transparência é muito importante, por isso, as marcas que aderem a esse conceito procuram informar a origem real dos produtos: em vez de omitir a origem da produção. Além disso, ao diminuir intermediadores no processo de troca das mercadorias, o consumidor se aproxima do produtor. Com esse estreitamento, os produtores sentem a responsabilidade de produzir com qualidade, pois os produtos serão consumidos por pessoas que eles conhecem e os consumidores sentem uma responsabilidade em relação aos produtores, que são membros de sua comunidade.

Valoriza produtos sustentáveis e sensoriais

Os produtos sustentáveis e sensoriais do Slow Fashion são aqueles que têm uma vida útil mais longa e são mais valorizados que os consumíveis típicos. Outra maneira de prolongar a vida das roupas é fornecer produtos que têm longevidade funcional e que permanecem na moda. Os produtos desenvolvidos não podem ser aqueles da “temporada da moda”. O relacionamento do sujeito com o objeto precisa envolver algo a mais que a simples aparência. É preciso existir um vínculo capaz de evitar o descarte preco

Promove atuação colaborativa/cooperativa de trabalho

O movimento preza pela formação de cooperativas capazes de promoverem a colaboração entre os agentes da cadeia têxtil, uma forma de gerar um comércio mais justo - especialmente no caso das mulheres, que formam um contingente significativo no ramo têxtil. Por aqui, temos um desafio diário com as fábricas sobre a produção consciente, mais próxima dos consumidores antenados e que valorizam os pontos citados nesse artigo. Agora me diz sobre você, como produtor, tem essa preocupação? E como cliente, busca ter a consciência no momento do consumo?

 

As marcas autorais artesanais

Processo de produção de artesãs que atuam na Paraíba para a marca Fernanda Yamamoto. Foto: divulgação. 

Se você também se preocupa com esses valores, vale conhecer o o trabalho de estilistas e marcas autorais brasileiras,  como a Flávia Aranha, a Morada, a Foz Ateliê e a Fernanda Yamamoto, a Catarina Mina, entre outras que tem atudo junto aos artesãos brasileiros, valorizando seus saberes economica e culturalmente. Elas estampam em suas coleções e seu modo de traabalho a identidade de comunidades que têm no fazer criativo seu meio de vida e seu legado cultural.

Ao consumir dssas marcas, não só estamos contribuindo para a preservação de técnicas têxteis muito relevantes para  cultura brasileira, como também estamos promovendo o comércio justo, que é baseado na transparência, no respeito aos direitos humanos e no pagamento justo aos trabalhadores.

Portanto, fica a provocação: você tem pensado na forma como consome moda? Ao escolher o que vestir, você está apoiando marcas que valorizam o trabalho justo e a preservação cultural ou está contribuindo para um sistema de produção insustentável, acelerado e injusto?

Lembre-se: moda é um ato político. Cada escolha que fazemos pode ter um impacto positivo ou negativo. Então, que tal começarmos a valorizar mais marcas que se preocupam com a preservação cultural e com o comércio justo? Vamos juntos fazer a diferença!

Sobre o autor

Camila Fróis e Mariana Maria

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