
Associação dos Artesãos de Feliz Deserto

As mãos que criam, criam o que?
"Taboa no brejo canta:
vem me colher, linda sereia de pernas!
Que em suas mãos outras belezas me esperam!"
Raquel Lara Rezende
É com a taboa, capim que nasce em áreas alagadas, que as artesãs de Feliz Deserto produzem pufes, bolsas, tapetes, cestos e outros objetos de decoração. O manejo da taboa é sustentável, pois após o corte o capim brota e cresce com rapidez. Depois de cortarem o capim, as artesãs o secam, dividem em partes menores, procedimento que se chama ripagem, para então poderem trança-lo. Por último, as peças são montadas e costuradas.
Quem cria?
A Associação das Artesãs de Feliz Deserto foi criada na década de 1990, por mulheres que trabalhavam na lida com a terra, que cuidavam de suas casas e filhos. Hoje vivem da confecção de artigos com a palha da Taboa e são o grupo mais bem estruturado do município.
Saiba mais:
- Tese de Doutorado “DINÂMICA DOS PROCESSOS EROSIVOS EM TALUDES DO BAIXO CURSO DO RIO SÃO FRANCISCO: DESAFIOS PARA SEU CONTROLE COM USO DE GEOTÊXTEIS”, de Cátia dos Santos Fontes, pela UFS (2016).
- “A Inovação no Processo Produtivo do Artesanato Local: o caso da cidade brasileira de Feliz Deserto”.
Onde criam?
Considerada uma das menores cidades do litoral alagoano, Feliz Deserto é conhecida pela paisagem cheia de belezas, onde as águas do mar encantam por sua transparência. O turismo tem crescido e gerado novas possibilidades de geração de renda para a população que sofre com as intempéries que atingem a atividade canavieira que é já há muitos anos, a base da economia de Feliz Deserto. O artesanato também tem se mostrado uma alternativa sustentável que gera, para além da renda, indenpendência para as mulheres, fortalece os laços com as tradições culturais populares e garante a proteção do ecossistema local.
A Taboa é planta encontrada na beira de rios e lagoas, em grande quantidade, formando o taboal que chega a crescer até quatro metros de altura. Sua palha por muito tempo foi a matéria com a qual comunidades ribeirinhas faziam suas camas, travesseiros, cadeiras, o que a deixou conhecida como “cama do pobre”. O uso da taboa e do junco hoje, para além de sua importância cultural e patrimonial, tem sido destacado como estratégia para abrandar dos processos erosivos que sobrecarregam os rios, como o rio São Francisco, cuja foz se encontra próxima à Feliz Deserto.
A história do estado de Alagoas anda de mãos dadas com a história da invasão do território chamado depois de Brasil, pelos portugueses. A região era habitada pelos Kaetés que sofreram muitas ações genocidas empreendidas pelos portugueses que queriam tomar posse das terras, para comercializarem livremente o pau-brasil, árvore nativa da Mata Atlântica, e avançar para o interior do território.
Mesmo com o esforço genocida e etnocida, as heranças indígenas seguem vivas nos fazeres e saberes de muitos moradores, como o trançado, e na alimentação à base principalmente de mandioca. Também a presença de comunidades de remanescentes quilombolas é muito marcante no estado de Alagoas de forma geral, onde os grandes canaviais foram por muitos anos o cenário onde se desenrolaram importantes histórias de morte, escravidão, mas também resistência, luta e esperança. A produção de açúcar em Alagoas teve um papel central, desde os primeiros séculos de colonização, em sua formação.
Rede nacional do artesanato
cultural brasileiro
