
Associação dos Artesãos Cores do Cerrado de Uruana de Minas (Central Veredas)

As mãos que criam, criam o que?
A arte da tecelagem e o tingimento são dois conhecimentos que caminham juntos na composição das peças produzidas pelas Associações que integram o Polo Central Veredas. Em Uruana de Minas, as artesãs buscam nas matas do cerradão as sementes, cascas, folhas e frutos, como a casca do murici e do jatobá, a folha de manga, do baru, eucalipto, entre outros para a prigmentação do algodão. A tintura natural também é obtida de serragens (pó de madeira) e do aproveitamento de insumos, como a casca de cebola. A água utilizada para ferver as matérias-primas é encaminhada para uma fossa ecológica para ser tratada e só então é devolvida à terra, o que faz de todo o processo uma prática sustentável. O tingimento natural é um conhecimento ancestral indígena que segue presente em algumas áreas rurais no Brasil. Depois de tingir os novelos de fio de algodão que recebem, as artesãs os devolvem para as tecelãs das demais Associações. Uruana também conta com o trabalho de fiandeiras, tecelãs e crocheteiras.
Quem cria?
Foto: Caio Ramalho / Divulgação Flávia Aranha
Às margens do Ribeirão Sussuarana (nome de uma onça vermelha que existia na Região), encontra-se o município Uruana de Minas, no noroeste de Minas Gerais. Fundado na década de 1960, como distrito de Unaí, o povoado se chamava Sussuarana. Em 1995, o distrito se emancipou, com o nome de Uruana, resultado da junção dos nomes Urucuia, nome do Vale onde se encontra, e Sussuarana.
Na década de 1970, a desapropriação da Fazenda Boi Preto, situada a 15 km de Uruana, pelo INCRA, atraiu muitos imigrantes para a região que se instalaram no município, esperando a distribuição dos lotes de terra. Nesse momento, as famílias trabalhavam, principalmente, com a lavoura, plantando milho e feijão. A partir de 1980, com uma alteração no sistema de Crédito Rural, grandes propriedade que trabalhavam com a lavoura passaram a investir na pecuária. Essa atividade, entretanto, absorve pouca mão-de-obra, além de impactar mais seriamente o ecossistema local.
Localizada no vale do Urucuia, o rio do amor de águas verdes, como os olhos de Diadorim, personagem de outra obra de Guimarães Rosa, Sertão: Veredas, a região é composta por cerrado e mata seca. As veredas são os grandes protagonistas do cenário paisagístico da região e trazem aos sertanejos importantes possibilidades de sustento, como os buritis, palmeira típica desse ecossistema.
Onde criam?
Foto Caio Ramalho /Divulgação Flávia Aranha
A associação de Uruana de Minas, “Cores do Cerrado”, integra a Central Veredas, junto a outras nove Associações, sendo a única responsável pelo processo de tingimento dos fios de algodão. A sua fundação é resultado de um trabalho desenvolvido em 2002 pela Artesol junto às artesãs da região e conta hoje com 14 associadas em atividade. O projeto estimulou as comunidades a olharem para as suas tradições e reconhecerem sua riqueza e valor. Foram oferecidas oficinas de capacitação, associativismo entre outras.
Desde a formalização do grupo, as artesãs passaram a vivenciar momentos importantes, como a realização dos mutirões, em que se reúnem com outras fiandeiras para fiar o algodão, cantando ao som do chiado da roca as cantigas de trabalho. Também as diversas viagens proporcionadas pelos parceiros, além dos convites para apresentações culturais.
A formação de um grupo de produção resgatou o artesanato de tradição e contribuiu para aumentar suas oportunidades de geração de renda, além de proporcionar às artesãs ampliação da rede de relacionamento com artesãs de municípios vizinhos, participar de eventos e se tornarem reconhecidas pelo seu saber. No contexto de crise hídrica, em que os cenários de pobreza e dificuldades se aprofundam, as mulheres desempenham um papel fundamental, principalmente na criação de possibilidades socio-econômicas, estruturadas a partir da parceria, do trabalho conjunto e dos laços de solidariedade.
A Associação de Artesãs de Uruana de Minas integra a Central Veredas, organizada em Rede Solidária compreende outros 9 núcleos de produção instalados nos municípios de Arinos, Natalândia, Bonfinópolis, Buritis, Riachinho, Sagarana/Arinos, Serra das Araras/Chapada Gaúcha, Urucuia e Barra do Pequi. Com a participação solidária de artesãos, constituiu parcerias para consolidar a sua estrutura e fortalecer os núcleos, garantindo-lhes acesso ao mercado, qualificação, aplicação de preços justos, divulgação dos produtos artesanais, fruto do trabalho de aproximadamente 146 associados, exercendo sua defesa socioeconômica e ambiental combatendo os trabalhos escravo e infantil e promovendo a igualdade de gênero.
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