Compras coletivas fortalecem artesãos indígenas e ribeirinhos na Amazônia

Peças de cerâmica Waurá do Xingu na loja Retrobel. 

No último mês de agosto os lojistas da Associação Coletivo de Fato receberam uma remessa de peças de diferentes etnias que vivem do Parque Indígena do Xingu (MT). As peças foram adquiridas através de uma ação de compra coletiva organizada pela associação com foco em fortalecer artesãos que estão com dificuldade de escoar sua produção por conta do isolamento imposto pela pandemia do COVID-19

Ao todo, o Coletivo envolve 36 lojistas de todas as partes do país que integram a Rede Artesol e atuam com o foco de promover o comércio justo e ético do artesanato brasileiro, incluindo a loja social da Artesol, a Artiz. Nesse contexto, o grupo tem tentado apoiar associaçoes que estão mais vulneráveis devido à distância que se encontram dos grandes centros consumidores. È o caso dos artesãos que vivem na terra indígena do Xingu, uma das maiores terras demarcadas no Brasil, que protege 16 etnias e sua riquíssima produção cultural.

Através da ação, os lojistas efetuaram uma compra à vista de cerca de 700 produtos incluindo peças de cerâmica, cestaria, bancos de madeira, redes, esteiras e acessórios de diferentes aldeias. Os produtos foram retirados nas próprias comunidades. “A compra coletiva promoveu a entrada de cerca de R$100.000 no Xingu, beneficiando diretamente 33 artesãos, neste momento tão crítico e desafiador”, explica Anny, presidente do Coletivo de Fato.  

Cestas Mehinako disponíveis na loja Artia

Por conta da questão do isolamento social, os indígenas que costumavam viajar para grandes capitais para participar de feiras e outras ações de comercialização não puderam sair das aldeias. Além disso, os eventos que eram abertos aos turistas no próprio Xingu foram cancelados em 2020 e 2021 o que prejudicou consideravelmente a comercialização do artesanato tradicional.

“Acreditamos que estimular mais ações como essas é uma um caminho para gerar trabalho e renda, combater a desigualdade social, mas também estimular uma produção que fortalece modos de vida tradicionais de povos que mantém viva nossa identidade cultural, nossa história e nossa potência criativa”, afirma Josiane Masson.

“Com o uso de tecnologias, como whatsapp e o zoom para a curadoria à distância, o Coletivo tem conseguido enfrentar o momento promovendo o empreendedorismo, a sustentabilidade e a renda imediata de muitas comunidades brasileiras que dependem do trabalho artesanal para o sustento de suas famílias”, reforça Anny.

Artesã com esteira mehinako no Xingu

Entre as etnias que participaram da ação do Xingu estão os Mehhinako, os Kalapalo, os Waura, os Kuikuro, entre outros. Segundo Michelly Mehinako, a possibilidade de vender suas peças sem ter que ir par a cidade foi muito importante para sua etnia. “A transportadora que nos atendia aqui no Xingu não quer mais transportar o artesanato indígena por causa do risco da quebra da cerâmica, então estamos com poucas alternativas, porque o correio é muito caro pra gente”, conta a artesã. Michelly relata que, através da ação do Coletivo de Fato, ela conseguiu vender esteiras, redes e bancos da sua família e que o recurso foi essencial neste momento da pandemia”. 

No ano passado, o Coletivo realizou uma ação parecida como grupos do estado do Amazonas como Núcleo de Arte Indígena de Barcelos (NACIB), Associação dos Artesãos Indígenas de São Gabriel da Cachoeira (ASSAI), Teçume da Floresta, entre outros. No total, a compra do Amazonas reverteu cerca de R$ 72 mil para os grupos envolvidos.

Produção de cestaria na Associação São Gabriel da Cachoeira. Foto: Felipe Abreu

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