Dina Lii de Guaranilândia

Maria Ribeiro

Chacoalha que chacoalha a gente no banco de trás da caminhonete, de um lado pro outro procurando Dona Lili. No Vale do Jequitinhonha, tem uma pequena vila chamada Guaranilândia. Sabe esses lugares que não têm sinal de celular, internet, nada dessas coisas? A gente se sente numa viagem ao passado, de uma forma muito especial.

Sobe pra cá, pergunta pra lá, volta, pergunta de novo... como que a gente conseguia se perder num lugar tão pequeno meu Deus? Mas quem espera sempre alcança, então eis que finalmente encontramos a casinha da ceramista. Ela olha de lado, meio que desconfiada... o que essa gente queria com ela?

- Vai entrando!  - ela diz, já virando de costas pra passar um café. 

Ali já dava pra ver onde ela fazia as panelas de barro, espalhadas pelo chão e pelo forno. Mas, como bons mineiros que somos, a gente senta, fala do tempo, toma café, pergunta da família... Dona Lili já foi casada, já teve filho e, segundo ela mesma, depois dos filhos crescidos ela cansou de ser casada. Cansou da vida daquele jeito. Queria sua liberdade. Saiu de casa, largou marido e foi viver sozinha e fazer suas panelas de barro. “Só assim é que eu tenho paz. Homem só serve pra tirar o sossego da gente.”

Tá certo – concordei. Liberdade em primeiro lugar.

Fomos inventar de perguntar onde ela pegava o barro. Sem mais delongas Dona Lili saiu desembestada no meio de um matagal que a gente quase não conseguia acompanhar.

Chegou na beira do rio... mostrou o lugar onde ela ia... entrou até o meio das pernas e a imagem era tão linda e poética que me emocionei. Olha ela ali, essa mulher corajosa, de uma personalidade forte, de muita coragem pra largar o marido dentro do contexto da vila onde vive... ela ali no meio do rio, as águas passando nas suas pernas, ela com a bermuda arregaçada, olhando pro horizonte.

Bonito demais. 

As panelas, umas belezuras! Todo mundo queria pelo menos uma. Dona Lili pega o que ela tem pronto, pois faz sozinha, uma a uma, ela explicava. Queima no forno a lenha ali da cozinha mesmo. Produção mais artesanal não existe. Cada um escolheu suas panelas e demos um jeito de colocar no carro, rezando pra que não quebrasse naquela chacoalhação. 

 

“Leva no colo!”

“Podexá, Dona Lili”

 

Despedidas, risadas que já brotavam daquele rosto queimado de sol, de início tão sizudo. Mineiro entende mineiro, no final das quantas. 

 

- Dona Lili, se eu pudesse, te levava pra mim! – diz o nosso chefe.

- Ahhhhh, moço.... SE EU GOSTASSE!

 

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Maria Ribeiro