ONG Artesol é finalista do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2021

Com o projeto Artesanato 5.0, a maior rede de artesanato do mundo concorre na Categoria Inovação Digital. A tecnologia é capaz de gerar oportunidades para pequenos produtores, espalhar boas histórias, fomentar o comércio justo e, especialmente, transformar vidas dos artesãos brasileiros.
Josiane Massom

 

A iniciativa Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro, da ONG Artesol, acabou de ser certificada como uma Tecnologia Social pela Fundação Banco do Brasil. A certificação valida que o projeto promove o desenvolvimento social e econômico dos artesãos envolvidos, salvaguardando técnicas artesanais que são patrimônio cultural do Brasil. O projeto também foi indicado como um dos três finalistas para receber o Prêmio de Tecnologia Social na categoria Inovação Digital. A indicação leva em conta o compromisso da Rede com cinco dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, a capilaridade geográfica das ações e o uso da tecnologia para conectar e articular a cadeia do artesanato no país.

“As iniciativas finalistas foram selecionadas considerando-se a efetividade, inovação, sistematização da tecnologia e a interação com a comunidade, além da promoção da igualdade de gênero”, afirma a Fundação em sua página. O prêmio, que completa 20 anos em 2021, tem reconhecido nessas duas décadas tecnologias que criam soluções e transformam a realidade de milhões de brasileiros pelo país, através da inovação nas áreas de alimentação, educação, energia, habitação, meio ambiente, recursos hídricos ou renda.

Em três anos de existência, o projeto Artesanato 5.0 - Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro consolidou o maior mapeamento do artesanato do país e ampliou oportunidades de negócios para comunidades tradicionais. É uma tecnologia social que gera renda para milhares de brasileiros e que aborda o passado e o futuro, a tradição e a inovação, a ancestralidade e a contemporaneidade, o tempo das mãos e a era do algoritmo. Através da iniciativa, a Artesol registra e difunde a memória dos mestres e artesãos e seus saberes populares em uma moderna plataforma digital, promovendo a conexão entre eles e o mercado.

O que é uma tecnologia social?

Tecnologia Social é entendida como um conjunto de técnicas e metodologias transformadoras, que são desenvolvidas ou aplicadas para promover soluções focadas na inclusão social e melhoria das condições de vida de um território ou um segmento específico da população. São experiências que valorizam os saberes das pessoas envolvidas, são sustentáveis, reaplicáveis, ou ajudam na promoção da autonomia dos interlocutores. 

Nesse sentido, a Rede Artesol atua para promover melhores oportunidades de trabalho e renda para os artesãos do país, através de diversas ações de mapeamento, capacitação, valorização e documentação que se materializam em uma moderna plataforma digital capaz de conectar núcleos criativos ao mercado. Também é uma metodologia relevante e potente, porque mantêm viva a tradição dos saberes e fazeres artesanais na contemporaneidade, promove a inclusão social, o empreendedorismo baseado no comércio justo, a valorização das identidades culturais locais e protagonismo dos detentores de saberes populares. Além disso, é um dispositivo que estimula a autonomia dos artesãos a buscarem qualificação, fazer negócios justos e estarem conectados com todo o mundo por meio da sua presença digital.

Na prática, o portal da Rede (Artesol.org.br) disponibiliza informações qualificadas e contatos de cerca de 5 mil artesãos do Brasil, que podem ser acessadas em em 55 línguas diferentes. Nessa plataforma, os artesãos podem revelar seus talentos para o mundo, adquirir novos conhecimentos, fazer conexões e parcerias com designers, marcas, curadores e lojistas. 

O projeto inclui também ações de capacitação nas áreas de tecnologia de comunicação digital e comercialização em núcleos artesanais espalhados por todo o território nacional. Os artesãos contam  ainda com uma mentoria online e um canal de aprendizagem virtual com conteúdos exclusivos nas áreas de gestão, criação de produtos, design, entre outros temas.  Dessa forma, a Rede leva oportunidades especialmente para mulheres, para comunidades tradicionais, para indígenas, ribeirinhos e muitos outros brasileiros que precisam de alternativas de renda em seus territórios.

O futuro é coletivo e o artesanato também

O conceito de Artesanato 5.0 é baseado em uma noção de economia criativa e de comércio justo que se conecta com novas perspectivas  para o artesanato. A Rede Artesol mira uma sociedade do futuro onde o pensamento se opõe, por exemplo, ao da época da Revolução Industrial, cuja ideia de progresso hoje cobra um custo alto do planeta e da humanidade. Estudos recentes apontam que o que o homem aspira para o futuro é justamente reparar os danos do passado, almejando as transformações sociais e a sua qualidade de vida.

A tecnologia Artesanato 5.0 vai ao encontro desse futuro, de uma sociedade com uma nova abordagem, onde o homem terá outro entendimento sobre a economia, os meios de consumo e a preservação da biodiversidade. A sociedade que está se configurando no presente demonstra a consciência e o interesse de resgatar e valorizar princípios e condutas ligadas à inclusão social, à sustentabilidade e ao bem-estar coletivo.

A crise pandêmica mundial acelerou e confirmou esta previsão. Nesse sentido, a tecnologia social que apresentamos tem a sua potência no uso da comunicação e da tecnologia, pois utiliza o meio digital para ganhar escala, democratizar o acesso ao conhecimento e dialogar com diferentes públicos numa perspectiva educativa. Esse alcance não seria possível sem a internet, que é o instrumento utilizado para apresentarmos ao mundo a importância patrimonial do artesanato de tradição cultural do país e a sua potente fonte de transformação social na vida dos artesãos. A abordagem dessa tecnologia social considera a tradição e a inovação como dois elementos que não são antagônicos. Ou seja, a tradição não é algo estático, do passado, como muitos podem pensar, e a Inovação, apesar de remeter à contemporaneidade, é um movimento que sempre esteve ao lado da tradição, pois são fenômenos complementares que se potencializam mutuamente.

A nossa proposta é colocar o fazer manual no foco da economia do futuro, que já está sendo atrelada à economia das emoções, onde as pessoas, enquanto consumidoras, passam a desejar produtos e serviços que as façam pensar, viver e sentir algo novo, que as inspire e que lhes ajude a resignificar seu mundo pessoal e compartilhado, com mudanças positivas em seu meio.

A solução que essa tecnologia social apresenta, portanto,  é colocar o artesanato de tradição cultural do Brasil numa vitrine virtual internacional. É revelar a riqueza, a diversidade de técnicas, matérias-primas e a criatividade dos artesãos do país para o mundo. Há três anos, todo o conteúdo do portal vem sendo acessado gratuitamente por artesãos, profissionais da área, estudantes, pesquisadores e consumidores. A página se tornou, assim, a maior e mais qualificada referência para pesquisas sobre esse universo no país. O site é atualizado constantemente, pois ele é a ferramenta que materializa a Rede e a dimensiona como uma tecnologia social.

Profissionalização, autonomia e conexão

A cada ano, novos integrantes são incluídos na Rede com seus respectivos perfis na plataforma digital e as funcionalidades de navegabilidade são aprimoradas para que os usuários tenham uma experiência positiva na visita ao portal. Em 2020, foi lançado dentro da  plataforma da Rede o Canal Virtual de Aprendizagem, o 1ª espaço virtual de formação continuada para os artesãos, com uma programação de podcasts, webaulas e documentários de boas práticas. O diferencial desse ambiente é que o conteúdo é desenvolvido a partir de casos inspiracionais e demandas reais levantadas junto aos artesãos. A Rede tem também o propósito da profissionalização dos artesãos, que sempre foram estigmatizados pelo amadorismo e a informalidade.

Em síntese, é uma tecnologia capaz de influenciar políticas públicas culturais, sociais, econômicas e ambientais em um setor econômico que abrange cerca de 10 milhões de trabalhadores criativos, segundo o IBGE/2009.

 

 

Sobre o autor

Josiane Massom

Jô Masson é terapeuta ocupacional de formação com pós-graduação em Gestão de Organizações e Projetos Sociais no Terceiro Setor. Já coordenou vários projetos em diferentes organizações e setor público como consultora em desenvolvimento institucional. Há mais de 10 anos exerce a função de diretora executiva da ONG Artesol, sendo a idealizadora da Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro, que se tornou o maior portal de mapeamento, conteúdo e articulação do ecossistema do artesanato cultural do Brasil.
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