
Mestra Luiza dos Tatus - Luiza Maria da Silva

As mãos que criam, criam o que?
Com o barro colhido nas margens do rio Ipojuca, Luiza dos Tatus modela animais que encontra na comunidade onde vive, e outros de terras mais distantes, como iguanas, tartarugas e girafas. Os tatus, que lhes dão o nome, tem um charme especial: as carapaças são removíveis e permitem ver o bichinho em toda a sua nudez.
Além das esculturas de animais, Luiza também faz peças utilitárias, como panelas, potes e vasos. Às vezes, os animais e as louças se misturam e uma travessa ganha feições de galinha ou de peixe e um tatu vira vaso para plantas.
Depois de modeladas, as peças secam à sombra e recebem desenhos, muitas vezes geométricos, coloridos com argilas como o caulim e os toás. São, por fim, queimadas em forno a lenha por cerca de quatro horas.
Quem cria?
Foto: Helena Kussik
Luiza Maria da Silva é filha e neta de louceiras. Não teve infância porque precisou trabalhar muito nova na roça. Com nove anos já fazia panelas de barro, ofício que aprendeu com sua tia Dite. As panelas eram comercializadas por sua mãe na feira da cidade e cada uma era vendida por um ou dois reais.
Entre 2006 e 2009, a artista plástica Ana Veloso atuou em Belo Jardim e em outras cidades do agreste pernambucano por meio do projeto Estado da Arte, com o objetivo revitalizar a produção artesanal e estimular sua visibilidade. Foi nessa ocasião que Ana Veloso viu, entre as peças modeladas por Luiza, os mais belos tatus do mundo, dando-lhe, assim, a alcunha de Luiza dos Tatus.
Quando participou da Fenearte pela primeira vez, em 2011, diz ter vivido finalmente sua infância. Largou o estande com suas amigas e saiu pelos corredores da feira para conversar com todo mundo. Foi também a primeira vez que viu suas peças serem vendidas por tanto dinheiro que até ficou tonta.
Com o seu trabalho, sempre feito com muito amor, ajuda familiares e outras pessoas de sua comunidade, onde é uma figura de referência. Toda sua família trabalha com a produção cerâmica: seu marido, suas três filhas, o genro e mais outros três ajudantes. Por todo seu conhecimento e sua trajetória, Luiza dos Tatus foi reconhecida pelo PAB como mestra do artesanato brasileiro.
Onde cria?
Foto: Helena Kussik
O povoado de Sítio Rodrigues pertence ao distrito Água Fria, zona rural do município de Belo Jardim, no agreste pernambucano. Localizado próximo ao rio Ipojuca, possui uma forte tradição paneleira que vem se renovando desde 2006.
Belo Jardim tem o título de “terra dos músicos”, devido à forte presença de bandas criadas no século XIX, antes mesmo da proclamação da República. Também é sede de várias empresas com relevância nacional e possui grande vocação turística com suas paisagens, rios e cachoeiras.
O município sedia importantes festividades religiosas e populares. Durante seis dias do mês de julho, a cidade realiza a tradicional Festa Marocas, que conta com ciranda, coco de roda, encontro de sanfoneiros, xaxado e cantores famosos, atraindo moradores de munícipios vizinhos. Essa festa foi reconhecida como patrimônio imaterial de Pernambuco pelo governo do estado.
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