
Regina Lúcia Maia de Souza

As mãos que criam, criam o que?
A marchetaria é uma arte milenar que foi difundida no Brasil pelos jesuítas, no período da colonização. Trata-se de uma tecnica de encaixar lâminas ou pedaços de madeira, como é o caso do trabalho realizado por Regina.
As tábuas de servir são sua principal peça e ganham diferentes formatos, desenhos e cores, nas mãos de Regina. As madeiras que utiliza são doadas por uma empresa de manejo florestal sustentável. Entre as mais utilizadas, estão o roxinho, o jatobá, a muiracatiara, o amarelão, angelim, a murapiranga, entre outras.
Quem cria?
Natural de Tarauacá, interior do Acre, Regina Lúcia Maia de Souza se mudou aos 14 anos para a capital, Rio Branco, para seguir os estudos. Desde pequena gostava de artesanato e se divertia fazendo crochê e tricô.
Em Rio Branco conheceu seu atual esposo, mineiro, e com ele se mudou para Belo Horizonte, onde viveram por 26 anos. Em terras mineiras trabalhou, principalmente, com cartonagem, fazendo caixas decoradas e para embalagem.
Há 4 anos retornou para Rio Branco, onde abriu com a irmã Lucélia Maia de Souza o Atelier “Teca Artesanato da Amazônia”, com a proposta de criar a partir de materiais reciclados. Mas, após um curso que fizeram pelo Sebrae, colocaram o foco na madeira. Hoje, se dedicam especialmente à marchetaria de bloco.
Onde cria?
“É importante valorizar o que temos no Norte, que nós temos ainda, graças a Deus: as palmeiras, a jarina, considerada o marfim vegetal, o tucumã, o diamante negro da Amazônia. Porque lá fora, ninguém conhece o Norte. Tem aquela brincadeira: O Acre existe? Então a gente conta um pouco das nossas palmeiras, divulga essa história.”
Tarauacá, onde Regina nasceu e viveu a infância, é conhecida como a terra do abacaxi grande, ananá. O município fica no interior do estado do estado do Acre, região cuja história é marcada pelo ciclo da borracha e pelos conflitos políticos que culminaram com a criação do Acre Território, após o fim da revolução acreana. Somente em 1962 o Acre foi transformado em estado. Mas mesmo todos os difíceis processos pelos quais a região passou, toda a violência, principalmente contra as comunidades indígenas locais, a região segue marcada pela presença de mais de 15 etnias indígenas, como Kaxinawa, Arara, Jaminawa, Ashaninka, Madija, entre outros - sendo algumas aldeias isoladas.
A diversidade se faz presente também na vegetação, pertencente ao bioma amazônico. Inúmeras palmeiras, árvores, sementes, aves, felinos, entre outros animais, colorem a região e inspiram a imaginação dos artistas e artesãos que podem unir a sabedoria e o conhecimento populares com as belezas vivas da floresta.
Diante de um processo de desmatamento que tem arrasado com a biodiversidade de tantas regiões brasileiras, o Acre parece um oásis. Mas, talvez por se tratar de um estado recente, ainda marcado pelos conflitos do passado, há pouca consciência da importância, da riqueza e da beleza da região.
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