Ouro Preto - Minas Gerais

Localização - - Ouro Preto/MG - CEP 35400-000
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O Território

Foto: Sandra Martins

A cidade de Ouro Preto, situada em Minas Gerais, é um dos lugares que contam a história colonial do país. Anteriormente habitada por povos indígenas, as suas origens urbanas remontam ao século XVIII, durante a corrida do ouro. Nessa época, chegou a ser a cidade mais populosa da América Latina. Foi lá que se passaram os principais acontecimentos da Inconfidência mineira, liderada por Tiradentes. Hoje a cidade tem cerca de 80 mil habitantes e é um dos principais focos do turismo brasileiro. Casarões coloniais, ladeiras, festas populares e arte barroca permitiram que Ouro Preto fosse tombada como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco em 1980. É na cidade e em seus arredores que estão os melhores exemplos da bela e delicada arte de esculpir em pedra sabão.

 

Como nasce um polo criativo?

“Pedra dura pedra bruta pedras e mais pedras na retina dos olhos o luar sobre o verde dos alvoredos sobre as pedras de sol e sal” (Poema de Pedra-sabão, Cláudio Bento).

O nome técnico é esteatito. Mas quase todo mundo conhece por pedra sabão. Suas cores variam entre o verde e o cinza. É menos dura que o mármore e o granito. Ao mesmo tempo, tem alta resistência a mudanças de temperatura e a impactos, fatores que juntos permitem o manuseio e a conservação no tempo. Ao que tudo indica, a arte de escupir em pedra sabão tem origem no povo negro escravizado. Muitas das pessoas sequestradas de África para trabalhar na mineração vinham da região do Império Monomopata, localizado entre o Zimbábue e Moçambique, onde existiam grandes construções em pedra sabão. Como esse povo, também no Brasil, era o responsável pela extração das pedras e muito do processo de construção das peças, ele teria influenciado no seu desenvolvimento.

No Brasil, as produções em pedra sabão demoraram a atrair os olhares do mundo artístico nacional. Isso teve uma certa mudança a partir de 1924, quando Mario de Andrade organizou uma comitiva de seis modernistas, incluindo Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade, com o objetivo de conhecer melhor a arte mineira, dando um grande destaque à pedra sabão.

Quem quiser encontrar as mais variadas peças em Ouro Preto, basta dirigir-se à Feirinha de Pedra Sabão, que fica em frente à Igreja de São Francisco de Assis, no Largo do Coimbra. Panelas, esculturas, artigos religiosos, relógios, luminárias, fontes e mais uma infinidade de peças pode ser encontrada por lá. Nos arredores do largo, prédios históricos encantam os olhos, e bares e restaurantes trazem uma boa culinária.

Alguém com o olhar mais atento vai perceber que em Minas Gerais a pedra sabão teve seu encontro com a arte. A grande referência é Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. As esculturas da igreja da Ordem Terceira da Penitência de São Francisco de Assis vêm como um bom exemplo. Além da cidade de Ouro Preto, o distrito de Santa Rita de Ouro Preto e o distrito de Cachoeira do Campo são polos onde estão artesãos, ateliês e lojas.

Os irmãos Bretas, por exemplo, estão no distrito de Cachoeira do Campo. Ainda muito jovens conheceram a tradição de entalhar em pedra sabão. Tiveram como primeiro mestre o artesão Bené da Flauta, que fazia miniaturas. O primeiro dos irmãos a se dedicar a arte foi Benório Bretas, com o objetivo de ajudar financeiramente a família. Depois os outros irmãos, Vicente, Duilio e Heli se juntaram a ele e lá se vão mais de cinquenta anos de arte em pedra sabão. Eles ensinaram a arte a muita gente e influenciaram na história da pedra sabão em Minas Gerais.

Em Cachoeira do Campo e Santa Rita do Ouro Preto, as lojas podem ser vistas já nas entradas dos distritos e em algumas delas é possível ver a produção das peças e conversar com os artesãos. Em ambas o comércio de pedra sabão é essencial para a economia local.

 

Como se mantém um processo criativo?

Foto: Ana Luiza Vargas

A arte em pedra sabão ainda é hereditária. É normal ser passada ao longo das gerações. A produção das peças é feita em ateliês, geralmente no fundo das residências e muitas vezes com instrumentos produzidos pelos próprios artesãos.

A continuidade do entalhe em sabão apresenta alguns desafios. O primeiro é a ameaça provocada pela extração industrial. A pedra é retirada em blocos para exportação e em menor número para o mercado interno. Uma parte dos blocos, conhecido como “ponta”, é comercializada com os artesãos. Nos últimos anos, para atender a uma demanda internacional, a extração deixou de ser familiar, passando a ser industrial e de grande porte. Grandes empresas, nacionais e internacionais, têm comprado jazidas e utilizado processos de extração que não destinam mais partes de pedra aos artesãos.

Existe também o desafio da sustentabilidade. Muitos lugares de extração não têm licença ambiental e a extração exagerada – feita principalmente para a indústria química, metalúrgica e para a exportação – pode levar a impactos ambientais profundos. Existe, ainda, o desafio do cuidado com a saúde das pessoas que participam da extração e manuseiam a pedra, dois momentos em que é produzido um pó que provoca problemas respiratórios.