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As vozes do artesanato ecoam em mais uma edição da Fenearte

A designer e consultora Thaís Marquez conta sobre a jornada de explorar a maior feira de artesanato do Brasil. Em 2024, mais de 5 mil artesãos se encontram para ecoar suas histórias por meio de suas peças: uma explosão de cores, formas, aromas e sons se reúne, anualmente, em Olinda, durante duas semanas consecutivas.

Thaís Marquez

12 de Julho de 2024


A Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte) reúne as mais relevantes iniciativas e empreendimentos artesanais do país. É a porta de entrada para o mercado nacional: nela o artesão entende a importância do seu trabalho, conhece as organizações de apoio e fomento, encontra com colegas que têm as mesmas dúvidas e dificuldades que ele e leva consigo o dever de casa de como pode entregar mais na próxima edição. Muitos artesãos, coordenadores e consultores da Rede Artesol, inclusive, se encontram todos os anos nesse evento potente. Visitar a feira é muito mais que um passeio, é se conectar com a força da cultura brasileira: além dos 700 estandes dos expositores, o evento oferece oficinas, shows, apresentações culturais, palestras e muita comida típica.

Venho desbravando feiras de artesanato, design e decoração por esse mundo afora já faz mais de 15 anos, mas é na Fenearte que meus olhos brilham mais. Referências colecionadas ao longo desses anos são recheadas de muitas histórias, de reencontros e de novos encontros.

Imagine você ter um encontro marcado com os artesãos do país todo? Toda criatividade que brota de cada canto, as novas técnicas (e as tipologias seculares), toda sorte de materiais e as coleções saídas do forno, tudo isso  reunido no mesmo espaço. As artesãs que expuseram nas primeiras edições estão com filhos crescidos e netos que o artesanato “ajudou a criar” e que hoje participam das feiras ajudando a manter a tradição do ofício por gerações. 

Comecei a perceber com o tempo que a pesquisa e busca por produtos era apenas uma “desculpa” para me conectar com cada artesão. Quando você se dá conta, os anos se passaram e hoje já chego perguntando como está a família de tantos deles. 

Para se ter uma ideia de como esses encontros reúnem histórias, na feira do ano passado, eu precisava encontrar uma pessoa de Recife que trabalhasse o papel de forma similar à que eu havia encontrado nas minhas pesquisas de tendências. A ideia era que essa pessoa tivesse sinergia com o trabalho que eu havia iniciado com o artesão e maravilhoso professor Zavi Samir (ele foi o primeiro a me ensinar técnicas de modelagem com o papel).

Recife tem tradição em trabalhos realizados com papel e, seguindo a lei natural dos encontros, focada na pesquisa em papel machê, encontrei o estande Lu Madre no meio de tantos outros espaços do Sebrae. A Luciana faz acessórios em papel reciclado que, além de contribuírem com a economia circular, unem estilo próprio, leveza e qualidade primorosa. A conversa acabou se estendendo na carona de volta para o hotel e, a partir daquele dia, o estande Lu Madre passou a ser minha parada obrigatória durante a feira.

Depois do evento, mantivemos contato e convidei a Lu para dar uma oficina de papel machê para o projeto “Artesanato 360” que eu estava realizando com mulheres da comunidade do Pilar do centro de Recife (mas esse é um projeto que merece ser contado em um capítulo à parte).

A oficina foi um sucesso e a paixão mútua pelo artesanato nos uniu ainda mais. Toda vez que eu ia pra Recife realizar meu trabalho, dava um jeito de dar um pulo na casa dela para tomar um café, conversar sobre a vida e trocar figurinhas sobre artesanato e mercado.  

Um ano se passou e é chegada a 24° edição da feira de artesanato mais esperada.

Chego na casa da Lu, mas desta vez de mala e cuia, para a maratona da segunda semana de feira. Além dela, me esperava para o café da manhã, sua amiga do Rio de Janeiro que havia conhecido na mesma feira um ano antes de mim. Sim! Eu disse que o artesanato é apenas uma desculpa para reunir pessoas e suas histórias! Nos preparamos e lá fomos nós!  

Uma mostra do Brasil feito à mão

A Fenearte é conhecida pela sua diversidade de tipologias de produtos. De maneira geral, a segmentação é feita por material. Na rua dos têxteis, por exemplo, você encontra peças em renascença, tapeçaria tradicional feita em tear de algodão, pintura em tecido e mais uma infinidade de técnicas. As ruas com cerâmicas e esculturas em madeira também são um ponto forte da feira. Além disso, existem os estandes, que fazem parte do programa de artesanato brasileiro, onde encontramos um pout pourri de cada estado, assim como os estandes do Sebrae, que também trazem um apanhado de cada região

Como a feira é sediada em Pernambuco, existem muitos estandes menores subsidiados pelos municípios do estado e também a Alameda dos Mestres, dedicada aos artesãos pernambucanos já consagrados e reconhecidos formalmente.

A edição deste ano tem como tema “Sons do Criar — Artesanato que Toca a Gente”. Próximo à entrada, ficam os espaços com exposições de curadorias especiais e a rua dos mestres logo no início do percurso. Na minha jornada, dou uma geral, mato a saudade, fico por dentro das novidades e das vendas e sigo para iniciar minha pesquisa. Diferente dos anos anteriores, resolvi chegar na segunda e última semana do evento.  

Upcycle

Assim como a Fenearte tem um tema, eu tenho o meu. Cada ano chego com um propósito diferente e é um ótimo exercício do “olhar” se propor percursos com temáticas diferentes. Por exemplo, outro dia fui com foco em encontrar projetos e produtos que promovem a economia circular. Além de ser uma consumidora de produtos de responsabilidade socioambiental, meu trabalho de consultoria funciona como um hub das empresas e entidades para trazer soluções mais comerciais e sustentáveis pro mercado.

Na minha pesquisa na feira, me deparei com marcas que trabalham com resíduos da indústria da moda como o upcycling do jeans ou com uso de resíduos da construção civil em acessórios, mas são ações ainda muito pontuais e tímidas que se perdem no mar de expositores. Por outro lado, o tema é protagonizado em uma “exposição de reciclados”, ação que promove a difusão do uso desses materiais, onde o visitante deixa seu voto para a peça que mais gostou. Exposições como essa são um convite à reflexão sobre o papel do artesanato na economia circular. 

Em minha próxima visita irei com o foco em trabalhos em cerâmica e vou, no fim do circuito, adentrar no espaço Janete Costa, que possui uma curadoria primorosa do artesanato brasileiro. Passei ontem rapidamente para matar a curiosidade e amanhã vou focar na cerâmica do espaço e que é muito forte no artesanato pernambucano.

Essa minha maratona se encerra no penúltimo dia de feira quando a Casa Itinerante retorna pra base atual em Salvador. O site da feira está bem completo e tem a agenda dos eventos e e pra quem gosta de aprender uma técnica nova ainda pode fazer uma oficina de artesanato. E, se não for desta vez, nos vemos numa próxima edição!

Thaís Marquez é designer, viajante e apaixonada pelas conexões entre artesanato, design, comportamento e sustentabilidade. Atuou em cargos de criação e inovação em empresas como Tok & Stok, Grupo Adeo e Le biscuit durante mais de 15 anos. Sua trajetória sempre envolveu projetos sociais dentro e fora do país. A Casa Itinerante, nasceu dessa soma de experiências e há dois anos realiza consultorias, mentorias e cursos com projetos que envolvem empreendedorismo, economia criativa e circular.  

24ª FENEARTE


Sons do criar,
artesanato que toca a gente

Data
3 a 14/07/2024
Horário
Segunda à sexta, 14h às 22h
Sábados e domingos, 10h às 22h
Local
Centro de Convenções de Pernambuco, Olinda – PE