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Eu vou tomar um tacacá: por que definir o Pará como seu próximo destino

12 de Janeiro de 2024 Toda vez que eu vou para o norte do país volto apaixonada e cheia de inspiração. Isso obviamente acontece pelo contraste que é a cultura […]

Mariana Campanatti

12 de Janeiro de 2024



Toda vez que eu vou para o norte do país volto apaixonada e cheia de inspiração. Isso obviamente acontece pelo contraste que é a cultura do norte comparada ao sudeste, onde nasci e cresci. Mas não é somente a este aspecto ao qual me refiro aqui, vai muito além das óbvias diferenças culturais, de clima e de rotina. É de fato uma terra de encantados. Estive recentemente no Pará e assim que cheguei em casa cresceu em mim a vontade de compartilhar meu olhar apaixonado que tenho por essa região. Conheço muitas pessoas que já viajaram para este estado e não puderam experimentar as belezas um pouco mais escondidas – ou até subjetivas – que esta região oferece. 

Por isso, digo, se ainda não sabe para onde ir nas próximas férias, eu recomendo fortemente e já trago uma série de sugestões para principiantes, começando em Belém, passando pela Ilha de Marajó e em seguida uma visita rumo oeste para Santarém. Vem junto:

Arte e artesanato: do fazer ancestral às obras contemporâneas e descolada

Brinquedos de miriti, peças de cerâmicas, cestarias coloridas, jóias modernas. Hoje o Pará é considerado um dos principais pólos criativos do Brasil. Esta seleção é apenas um pedacinho de tudo o que pode ser descoberto e explorado por você durante essa viagem.

Tradicionais brinquedos de Miriti em Abaetetuba

Próximo a Belém fica a cidade de Abaetetuba, uma região composta por mais de 70 ilhas, berço dos artesãos dos tradicionais brinquedos de Miriti, tão famosos no Círio de Nazaré e na infância das crianças da região.
Saiba mais

Cerâmicas históricas da Ilha de Marajó

Herdeiros das culturas arqueológicas marajoara e tapajônica, o povo paraense tem na

produção de objetos cerâmicos um importante elemento de sua identidade. Na Ilha de Marajó é possível visitar alguns ateliês e acompanhar a produção de cerâmica tradicional realizada pelas famílias.
Saiba mais: 

Cestarias coloridas do Rio Tapajós e Rio Arapiuns

Próximo a Santarém, na região oeste do Pará, é possível fazer passeios lindíssimos pelo Rio Tapajós e Arapiuns e aproveitar o ensejo para conhecer a Turiarte, uma associação que envolve 6 comunidades ribeirinhas e mais de 50 mulheres no fazer precioso das cestarias coloridas. Além dos trabalhos com fibras de tucumã, outros artesãos realizam trabalhos com látex, madeira, cuias e cerâmicas na região.

Saiba mais: 

https://www.artesol.org.br/turiarte
https://www.artesol.org.br/ribeirinhasdesantarem

Mais sobre o circuito artístico paraense:

Em 2023 aconteceu em Belém do Pará a primeira edição da Bienal das Amazônias. Pioneira, foi uma das 10 exposições mais vistas do Brasil no ano e considerada uma das melhores por diversos críticos. Reforça como a Amazônia tem ganhado força em compor suas próprias narrativas, para si e para o mundo todo. Fruto também de diversos movimentos coletivos, criativos e colaborativos que aconteceram na região nos últimos anos.

Conheça espaços compartilhados com outros artistas em Belém:

Casa Namata
https://www.casanamata.com.br/

Espaço Vem
https://www.instagram.com/espacovem/

Eu vou tomar um tacacá, uma cachaça de jambu, um açaí…

A influência indígena, africana e portuguesa associada aos ingredientes tipicamente amazônicos tornam a gastronomia paraense bem diferente do que estamos acostumados a provar por aí. E é, além de uma experiência sensorial, uma delícia!

Ver-o-Peso

O famoso Mercado Ver-o-Peso é uma das primeiras paradas para quem chega em Belém. Os produtos regionais, artesanato local, óleos mágicos, castanhas frescas, aquela bagunça que a princípio é difícil de entender é excelente para se perceber em terras paraenses. E lá mesmo é possível achar um cantinho para almoçar muito bem, de frente para o rio da baía do Guajará. Vale a ressalva: Não espere um almoço tranquilo, ele será atravessado por carros de som, vendedores ambulantes, turistas de todos os cantos, aromas novos, tudo isso compondo uma experiência sensorial única e encantadora.

Além dos maravilhosos peixes de água doce para serem provados, o açaí original não pode passar. O tacacá é uma boa pedida para o final de tarde. E a cachaça de jambu para começar a noite.

Casa Onze Janelas

A Casa Onze Janelas é um espaço cultural que existe desde 2002 e abriga obras de Tarsila do Amaral, Rubens Gerchman, Lasar Segall e vários outros nomes conhecidos. Lá, além de ser um casarão lindo na beira da baía, também é onde fica o Restaurante Casa do Saulo, um excelente lugar para experimentar pratos típicos da Amazônia. Vale se atentar aos valores, bem mais caros que os do Mercado, porém com uma apresentação e ambientes impecáveis.

Cozinha Tucupi na Ilha de Marajó

Na Ilha de Marajó, em Soure, um restaurante muito conhecido e frequentado é o Cozinha Tucupi. Não à toa: os pratos são deliciosos, originais e o ambiente aconchegante, cheio de artesanato local, que não dá vontade de ir embora. O local é pequeno, então chegue cedo ou reserve uma mesa com antecedência.

Dançando lambada, siriá, carimbó, brega e tecnobrega

Parece mesmo que quando você chega no Pará, os diversos ritmos, que tem forte influência caribenha, já te dominam. Eu, pelo menos, adoro dançar e gosto de ver gente dançando, então pra mim é um prato cheio. Também, não dá pra escapar muito; É difícil conseguir silêncio em Belém, Soure, Santarém… Sempre alguém tem uma caixinha de som tocando alguma música, seja um ritmo mais dançante, seja um brega pop emocionado.

A música está por toda a parte no Pará e a animação e ritmo está nos pés e no quadril do paraense. O estado gestou e pariu a lambada, nos anos 80, com o Pinduca e Manoel Cordeiro e também é mãe do carimbó, da guitarrada, do siriá, do tecnobrega, do brega e de diversos fenômenos nacionais, como é o caso da Banda Calypso, Fruto Sensual e Dona Onete, com o ‘tremor do jambu’.

O movimento do brega no Pará surge também nos anos 80 e lá pelos anos 2000, com a fusão com a música eletrônica, nas quebradas de Belém, nasce o tecnobrega. Por ser um ritmo marginalizado e fora do circuito das grandes gravadoras e dos centros de comunicação, o tecnobrega criou novas formas de produção e distribuição, com suas festas das aparelhagens com DJs, produtores caseiros e venda através de camelôs. Gostando ou não, hoje o tecnobrega decolou e é hoje ouvido em todos os cantos do Brasil.

Carimbó na Ilha de Marajó

Para assistir a uma boa apresentação de Carimbó, existem diversos grupos que se apresentam na Estação das Docas, no Ver-o-Rio ou outros pontos turísticos nas cidades. Recomendo as apresentações tradicionais belíssimas que acontecem em Soure, na Ilha de Marajó.

Lambateria

A Lambateria é um Festival da música latino-amazônica que acontece na semana que antecede o Círio de Nazaré, em outubro. É uma festa muito conhecida, até fácil de acessar, mas que dá a sensação de você estar descobrindo algo muito especial e exclusivo. Para chegar você passa por algumas vielas e de repente parece estar em um ambiente totalmente novo. Também, todas as quintas-feiras do ano, acontece uma versão menor da festa no Apoena Espaço Cultural. É uma delícia.

Aparelhagem

A expressão “aparelhagem” refere-se não apenas à música em si – o tecnobrega – mas também ao sistema de som usado para tocar essa música, geralmente composto por equipamentos de som potentes e sofisticados. Fruto da cultura periférica de Belém, é possível participar de um baile de aparelhagem em diversos locais da cidade.

Manifestações culturais, religiosas, santas e pagãs

A riqueza do acervo cultural paraense é inegável, graças à herança das nações indígenas que sempre habitaram a região e, mais tarde, se misturou aos europeus e africanos. Daí, vêm os pratos peculiares, o folclore singular e, claro, o tanto de festerê que amamos. Celebrações de cunho religioso ou não, as festas populares paraenses são o retrato fiel de um estado rico e também devoto tanto entre os mais velhos quanto os mais jovens.

Círio de Nazaré – Belém/PA

Este ano fui para Belém do Pará acompanhar o maior evento religioso do mundo, que acontece em outubro, o Círio de Nazaré. O Círio, considerado o Natal do paraense, é uma grandiosa manifestação de fé e devoção à Nossa Senhora de Nazaré, realizada há mais de 200 anos em Belém. É uma celebração icônica e é reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial pelo Iphan, além de declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.

Eu não me considero uma pessoa religiosa e fiquei profundamente tocada pela beleza, fé e devoção que acompanhei ao longo dos dias que aconteceu a procissão. É interessante ver como a devoção comove pessoas de todas as idades e classes sociais.

Arraial do Pavulagem – Belém/PA

O Arraial do Pavulagem é um grupo tradicional criado há quase 30 anos que promove a cultura e a tradição folclórica entre os mais jovens. É uma das mais antigas festas populares paraenses, promove apresentações de rua utilizando elementos amazônicos, como o boi bumbá e o barco de Miriti. Os personagens são, além dos bois, os gigantes de perna de pau e os cabeçudos. O grupo sai às ruas especialmente nas festividades do Círio de Nazaré.

Festa do Sairé – Santarém/PA

A disputa entre os botos Cor de Rosa e Tucuxi acontece em Alter do Chão. Uma das mais coloridas festas populares paraenses dura três dias e incorpora elementos religiosos e profanos das culturas europeias e indígenas.

Os encantados

Algo muito belo e bastante recorrente na cultura amazônica é a naturalidade que as narrativas com os encantados permeiam a cultura. Já ouvi diversas vezes histórias protagonizadas pelos entes que existem ou não na natureza e que, dotados de alguma habilidade especial, podem entrar em contato com pessoas por meio de sua forma física original ou de uma forma adquirida. É o caso de amigos que receberam a visita da Matinta Pereira, ou crianças que justificam algo inesperado por conta do Boto, tudo com muita naturalidade.

Com forte influência de toda a oralidade da cultura indígena, as narrativas com os encantados está presente em todas as formas de expressão cultural paraense, como é o caso dessas cuias de Abaetetuba:

Estamos na Amazônia, afinal!

Não existe viajar para a Amazônia e dissociar a viagem dos possíveis passeios de ecoturismo. Os rios, florestas e ilhas oferecem oportunidades para explorar a biodiversidade única da Amazônia em uma viagem ao Pará.

Tanto é que em 2025, Belém será sede da COP 30, a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que já está sendo conhecida como ‘COP da Natureza’. Na reunião, chefes de Estado e de governo, pesquisadores, ambientalistas e empresários discutirão medidas de enfrentamento às mudanças climáticas. A Conferência deve mobilizar diversas ações e eventos na ocasião, algo para estarmos atentos.

A natureza é obviamente algo a ser desfrutado profundamente nesta viagem, abaixo algumas sugestões para começar:

Alter do Chão – Santarém/PA

Alter do Chão é uma vila de pescadores banhada pelas águas do Rio Tapajós e um dos destinos de ecoturismo na região Norte que tem chamado a atenção dos viajantes nos últimos anos. Com uma beleza única, o destino já foi considerado como a praia de água doce mais bonita do mundo, pelo jornal inglês The Guardian.

Alter tem uma ótima infraestrutura para receber os turistas, os dias no destino são dedicados a passeios em praias, rios, lagoas, florestas e comunidades ribeirinhas. Na região também é possível visitar a Floresta Nacional de Tapajós, no Pará, com trilhas que chegam em árvores gigantescas e históricas. É como se fosse aquele passeio obrigatório para dizer que esteve na Amazônia.

Ilha de Marajó

A Ilha de Marajó é a maior ilha fluviomarinha do mundo, banhada pelo oceano Atlântico e pelos rios Amazonas e Tocantins, a ilha é dividida em 12 municípios cercados por matas, rios, campos, mangues e igarapés. É um dos lugares mais lindos que já visitei na vida. Para conhecer a ilha, a saída é de barco a partir de Belém. O trajeto leva cerca de duas horas e pode balançar bastante por conta da correnteza, por isso prefira os primeiros horários.

Museu Emilio Goeldi

O Museu Emilio Goeldi, em Belém do Pará, fundado em 1866, é considerado a segunda maior instituição de pesquisa e história natural do país. Ele também abriga um Parque Zoobotânico e Zoológico, trazendo um acervo riquíssimo sobre o bioma, flora e fauna amazônica para os interessados em se aprofundar no tema.

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É como ouvi de uma amiga querida uma vez: é possível passar uma vida inteira viajando dentro do Brasil. Eu, concordo muito com ela e do jeito que sou apaixonada pelo Pará, me obrigo agora a parar este relato, deixando algo para que você possa descobrir da sua própria perspectiva.

Agora, separe suas roupas mais fresquinhas, um sapato bem confortável e, a depender, providencie um isopor pra voltar carregado de açaí, castanhas, tacacá e se sentir um paraense de carteirinha.

Mariana Campanatti é comunicadora com ampla atuação na área de comunicação e de impacto social. Atua na gestão de projetos, curadoria e consultoria na área de comunicação, empreendedorismo social, sustentabilidade e negócios de impacto. Acredita que nasceu no país mais lindo do mundo, terra que ama e gosta de conhecer cada vez mais todos seus cantinhos com suas artes e personalidades.