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NATAL ORIGINAL: aposte em uma decoração que esbanje afeto e brasilidade

Nesse fim de ano tão particular, que tal fazer da casa um refúgio de aconchego e transformar o Natal em um ritual de fé, beleza, generosidade e conexão com as raízes brasileiras?

Vanessa Gomes


Fotos: Theo Grahl / Direção de Arte: Vanessa Gomes

O Natal é uma época cercada de simbolismos e memórias afetivas. As luzes, as cores, as comidas, as pessoas, a atmosfera de celebração. É um tempo de afeto, gratidão e troca. Tempo de cuidar. Momento de olharmos para nós. De olharmos para a casa, para a nossa morada. Interna e externa. A casa vem sendo, nos últimos tempos, um cenário de refúgio, um lugar de abrigo diante de um mundo que caminha de forma cada vez mais veloz, pouco gentil e nada afetuosa. Tudo isso vem levando as pessoas a olharem, sentirem e cuidarem mais de suas moradas.

Seguindo essa tendência, o mundo do décor vem lançando mão de conceitos que resgatem a autenticidade da ambientação da casa. Ganham espaço estilos como boho chic, que propõe um ambiente boêmio e contemporâneo, criando harmonia entre uma atmosfera despojada, de descanso e informalidade com elementos mais sóbrios, requintados e elegantes. Inspirado por uma essência nômade, as principais influências são a mistura de referências, muitas vezes étnicas, rumo à fuga do que é convencional, em direção à originalidade, ao improvável. A ordem é fluir e se permitir. Não tema, desobedeça.

E é daí que nasce a pergunta: e por que não pensamos no Natal como uma oportunidade de dar vida a uma casa mais acolhedora, afetuosa e por que não? Mais brasileira? Esse é um convite para criarmos, em meio aos nossos rituais de renovação e fé, ambientes inspirados nas nossas etnias, nos nossos povos, nos biomas e matérias-primas que nos cercam. Que tal trazer toda nossa ousadia criativa para se sentar à mesa conosco no dia da ceia, momento tão sagrado? É tempo de celebrar o Brasil, nossa cultura e diversidade.

“Design de interiores é uma profissão em alta hoje, num momento em que se repensam os espaços em que vivemos”, afirma Adélia Borges, jornalista e curadora especializada em design brasileiro que nos provoca a algumas reflexões e sugere novos caminhos. Saber que há uma forma de conjugar esse desafio com o exercício da cidadania, nos inspira a repensar as histórias que contamos em nossas casas.

Convide a criatividade para a mesa

A partir dessa proposta, pensamos em dicas práticas de como montar uma mesa para a sua ceia, com uma decoração menos óbvia e mais autêntica. A proposta é que você se sinta livre para tirar do armário aquela cerâmica brasileira, rústica e tão delicada, simples e singular e acomodá-la ao lado do tradicional conjunto de talheres da família.

A dica para criar harmonia entre tantos elementos e referências é começar pensando em uma cartela de cores. Com criatividade e, claro, cautela, aconselha-se mesclar três ou quatro cores no mesmo ambiente, distribuídas em móveis e objetos. Tons naturais, sem interferência de tintas e pinceis também são uma boa escolha. Marrons, caramelos e beges imprimem leveza e elegância à decoração.

O uso de cores mais vibrantes é interessante especialmente quando combinadas de um jeito simples e que destaque a beleza dos tons e a harmonia entre elas. Misturar texturas é outra possibilidade: fios, tramas, tecidos, trançados. Cerâmica com linho, madeira com ladrilho hidráulico ou caiação. São todos elementos de um Brasil autêntico. Eles podem estar impressos nos móveis, nos objetos e acessórios ou surgir em meio a um piso de cimento queimado feito com pó xadrez, um exemplo tão forte da nossa cultura caipira, cultuado cada dia mais por grandes nomes da nossa arquitetura e design.

A mistura de influências permite que o ambiente comporte diferentes acessórios, peças rústicas e produtos étnicos. Antes de começar a comprar qualquer peça que você julgue necessária para a decoração, aproveite para reviver e expor seus artesanatos de viagens e outros objetos brasileiros que você tem em casa. Fazer uma curadoria de peças feitas à mão com as nossas fibras naturais como a taboa, o sisal, a palha de milho, o buriti, a carnaúba e tantas outras vai permitir que você tire proveito da delicadeza e da sofisticação dos trançados brasileiros, uma herança das nossas etnias indígenas que dominam sofisticadíssimas formas de fazeres, únicos e ancestrais.

Que tal reencontrar a beleza e o valor do simples no pote de barro ou na moringa d’água delicadamente moldada pelas mãos das nossas habilidosas ceramistas? Outra ideia é lançar mão de recursos inéditos, que talvez você ainda não tenha ousado experimentar. Reúna almofadas de palha e acomode-as ao chão, sobre um tapete de toque macio, produzido pelo vai e vem dos pedais dos teares mineiros. Use-os para se sentar, apoiar os objetos, ou apenas para deixar o ambiente mais acolhedor. Vamos celebrar suas tramas, primorosamente cruzadas, tingidas e tramadas nesse Natal mestiço.

Estamos falando de estilos que permitem que materiais incomuns – miscigenados assim como nós, brasileiros – se misturem. Não tenha medo. Aglomere. Lã com palha, couro com vime, algodão com barro. Colchas artesanais, tapetes feitos à mão, mantas e almofadas em diferentes tecidos e texturas, use tudo apenas seguindo a tendência “mix & match” que nos autoriza a misturar e combinar. Os móveis de madeira, couro, crochê, com linhas rústicas e arredondadas, colaboram com a harmonia do ambiente.

Os pufes são excelentes opções para compor um espaço confortável, trazem leveza ao ambiente e simplicidade para combiná-los com outros elementos. As plantas são essenciais porque dão vida ao ambiente. Entregam a sensação de leveza e trazem a natureza para perto. Vasos de barro, cachepôs e cestos trançados conferem o charme extra para o verde na decoração. Faça uso do que te faz bem, preze pelo que traz alegria. Crie, monte, desmonte e varie tudo até chegar a um espaço elegantemente harmônico e com personalidade e jamais se esqueça do conforto. Você terá o deleite de viver em uma casa que conta histórias, revela perspectivas e transmite suavidade, leveza e alegria sem abrir mão do glamour e da sofisticação. Porque chique é a ousadia de ser simples.

Objetos de Cena: acervo @casadavila.com.br

Formada em comunicação com especialização em design e branding. Atuou como diretora de arte e idealizou a Casa da Vila, um projeto que buscou ressignificar os espaços e canais de comercialização da arte popular e do artesanato brasileiro ao longo de 13 anos. Integrou equipes em várias iniciativas alinhadas a esse propósito e atualmente se dedica a pesquisa, conteúdo, curadoria e interlocução junto a artesãos, artistas populares e comunidades nos diversos territórios brasileiros.