Trairi, a terra da renda do Bilro
Ao todo são mais de 5000 rendeiras de bilro na região do Trairi. Da semente do bilreiro, um árvore da região, vem o acabamento das agulhas, feitas de espinhos de cardeiro. Sobre uma almofada, muitas mães e avós criaram suas famílias e ensinaram o fazer às suas crianças, que cresceram já arriscando um ponto ou outro e cedo se tornaram, também, artesãs rendeiras. Em 2019, a Catarina Mina foi convidada pela QAIR {@qairbrasil} a desenvolver um projeto junto às mulheres de Trairi, no litoral oeste do Ceará. Esse misto de sertão e praia guarda um dos saberes mais valiosos do nosso artesanato: a renda de bilro. Em torno dela e junto de nossas equipes, mais de 100 rendeiras trabalharam durante os últimos meses para que desenvolvêssemos juntas uma coleção que agora te convidamos para vir junto e conhecer!
A renda de bilro (também chamada renda do Ceará ou renda de almofada), é, como outros saberes artesanais tão ricos do nosso estado, uma tipologia em extinção. Um saber que passa sempre de geração em geração com um aprendizado basicamente orientado pelo olhar: as meninas pequenas viam suas mães trabalharem na almofada, e no intervalo do trabalho se arriscavam a copiá-las. Muitas aprenderam assim. Esse ensino de observação leva tempo, e para que a renda continue sendo viável para essas mulheres, fazendo parte de seu cotidiano e de seu sustento, é preciso incentivo. Um trabalho sofisticadíssimo, cujas ferramentas vem da própria natureza, às vezes do quintal: de um espinho se faz agulha e marcação. De uma semente se faz o acabamento de cada agulha, e com a costura se faz a almofada. Em cima dela, uma matriz de milhares de jogos de mão, que compõem quase uma dança de quem trabalha na renda. Em dias e dias, é possível que a rendeira se ache construindo uma única peça. Em contraponto a isso, aprendemos escutando as próprias rendeiras que a não valia a pena aquilo tudo, porque “a renda não tinha preço”. Dias e dias de trabalho não chegam a gerar o mínimo. Baixos preços de venda, excesso de atravessadores e produto semelhante em muitos grupos dificultam a comercialização. Nossa tarefa, desafiadora, é o que sugere o método das Oficinas Catarina Mina: aprender, construir junto dos grupos, para que se fortaleça o artesanato e confira longevidade às tipologias.