Universo particular: adeptos do maximalismo transformam suas casas em cenários de histórias cotidianas e extraordinárias
Em seu artigo, a jornalista, especialista em decoração, Chris Campos questiona o imperativo do minimalismo, defende projetos de decoração com personalidade, espontaneidade e afetividade. Ela ainda levanta a bandeira da casa brasileira, aquela que mistura uma bossa meio romântica uma lembrança de férias à beira-mar ou objetos artesanais cheios de identidade.
Chris Campos
01 de Julho de 2024
O que é o máximo para alguns pode parecer exagero para outros. Em casa então, nem se fala… Especialmente quando as combinações vão além de ornar uma estampa com a outra ou reunir três tapetes diferentes na mesma cena. Um ambiente maximalista tem por essência a mania do tudo junto e bem misturado. Sendo que o bem misturado é muito diferente de simplesmente reunir tudo.
Maxi é o contrário de minimal no linguajar da decoração, um estilo que vai na contramão, por exemplo, da limpidez estética proposta pelos arquitetos modernistas, mas que não pode ser confundido com caos. Um fato a saber, caso o maximalismo esteja de acordo com seus interesses estéticos em ambiente doméstico, é que boas misturas pedem cautela. Pode parecer ambíguo, mas é assim que funciona. Simplesmente reunir uma porção de objetos aleatórios que não conversem entre si não é maximalismo. Às vezes, confunde-se o espírito acumulador, de juntar tudo sem critério em um mesmo lugar, com o deslumbramento visual de um ambiente criado com base no princípio básico do maximalismo: a ausência de regras. Um ambiente maximalista preza pela espontaneidade do criador e pela busca por sensações que quase sempre têm a ver com acolhimento, conforto acústico e estímulos visuais. O que inspira a composição é o desejo de criar um universo particular. Na lista de arquitetos contemporâneos que arrasam na criação de ambientes maximalistas estonteantes entram o veterano Sig Bergamin, Paulo Azevedo, Luiz Otávio Debeus e Marcelo Salum, para citar alguns dos grandes nomes nesse segmento do decor.
Um ambiente maximalista preza pela espontaneidade do criador e pela busca por sensações que quase sempre têm a ver com acolhimento, conforto acústico e estímulos visuais. O que inspira a composição é o desejo de criar um universo particular. Na lista de arquitetos contemporâneos que arrasam na criação de ambientes maximalistas estonteantes entram o veterano Sig Bergamin, Paulo Azevedo, Luiz Otávio Debeus e Marcelo Salum, para citar alguns dos grandes nomes nesse segmento do decor.
Entusiastas amadores do estilo, que topam o desafio de criar ambientes maxi em casa podem ser acometidos por algumas questões antes de arregaçar as mangas. Tapete persa e trama natural no mesmo ambiente? Sim, por que não? Engana-se quem pensa que só de cores e plantas é feito um espaço maxi. Um dos segredos do sucesso é adicionar ao mix decorativo o máximo de variantes na hora de eleger as texturas. Almofada de tricô, tapete desgastado, trama natural, couro gasto pelo tempo, uma cortina delicadamente rendada, um móvel de época lascado… Gosto não se discute, mas as misturas de cada um podem gerar boas discussões.
Particularmente, sou adepta entusiasmada de propostas maxi que incluam peças criadas pelas mãos de uma só pessoa ou de uma comunidade inteira. Mobiliário, objetos decorativos ou utilitários artesanais vêm com selo de afetividade garantida. São lindamente imperfeitas ou confeccionadas perfeitamente, de um jeito quase desconcertante.
Para um efeito de máximo encanto na decoração, porém, é preciso atenção aos pares, Porque reunir peças criadas em lugares tão distintos quanto a Ilha do Ferro, povoado do sertão de Alagoas, e Bichinho, ali coladinho em Tiradentes, nas Minas Gerais, é missão para olhos treinados. Já uma cestaria indígena ou uma gamela de madeira são peças que já nasceram curingas. Vão bem com quase tudo na miscelânea de ambientes maximalistas que fazem questão de manter o status de casa brasileira. Uma coleção de jarros ou vasos de barro pode ser combinada com harmonia a móveis modernos e tapetes de tear multicoloridos, como os produzidos do norte ao sul do país.
Cortina de renda é outro achado na hora de compor ambientes maxi. Dependendo do papel que se reserva a ela, ganha-se um lugarzinho mais acolhedor, uma bossa meio romântica ou uma lembrança de férias à beira mar. Banquinho caipira, tapete feito em tear manual, tapeçaria artesanal pendurada na parede, bichos de madeira, macramê, o filtro de barro esculpido em formatos inusitados. Todos esses são objetos que podem ser inseridos sem medo em ambientes que pedem peças marcantes, com personalidade e selo de brasilidade. Outras opções que não couberam nesse texto são histórias para você contar.
Criar espaços cenográficos em casa têm a ver com nossos desejos mais íntimos, com se expressar e cada uma das composições e, principalmente, elaborar cenas que nos remetam a boas sensações em casa. Mais importante do que se inspirar em tendências é identificar o que nos faz bem em território doméstico. Que tal experimentar?
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No meu curso de Cenografia Doméstica eu explico em 9 aulas os conceitos para começar a entender a dinâmica de uma casa com móveis e objetos que podem ser combinados e recombinados para compor ambientes sincronizados com seu momento.
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Chris Campos
Chris Campos (@casadachris) é jornalista, escritora, apresentadora e criadora do primeiro blog de decoração do Brasil e do recém-lançado curso online “Cenografia Doméstica”. e autora dos livros “Casa da Chris”, “Almanaque das Festas Instantâneas”, “A casa e a cidade” e “Como ninguém pensou nisso antes?”, todos no segmento casa e decoração. Escreveu ainda um livro de histórias de amor, “Assim te Conquistei”.