
Associação de Tapeceiras de Lagoa do Carro

As mãos que criam, criam o quê?
A talagarça, grossa tela em algodão tramado, é a base para os trabalhos de infinitos tons matizados de lãs que combinados entre si retratam os temas clássicos - florais, colonial e geométrico - incorporando combinações e motivos regionais, fauna e flora local, aos desenhos de inspiração ibérica. A tecnica genuinamente pernambucana é conhecida como brasileirionho e seu processo é dividido em 3 etapas: armação, matização e preenchimento.
Na tela, as tapeceiras fazem a armação, que consiste em preparar todos os contornos do bordado. Com os contornos prontos é feita a matização dos motivos; com diferentes tons de linhas elas preenchem os desenhos. Por fim o fundo também é preenchido, geralmente com uma única tonalidade.
O acabamento de tapetes, almofadas, passadeiras e pesos de porta é feito com um tecido de algodão que além de proteger o avesso do trabalho, confere melhor acabamento e maior durabilidade.
Quem cria?
Data de 1975 o ensinamento dos primeiros pontos através das mãos de algumas mestras, como Terezinha Lira, que na época produzia tapetes para a Casa Caiada, em Camaragibe. O número de bordadeiras não demorou a multiplicar-se ao perceberem que o trabalho lhes garantiria renda. No auge da produção, chegou a ser fonte de renda para mais de 2.000 moradores.
Porém a grande produção era comercializada a custos irrisórios à atravessadores. Por conta disso as mulheres decidiram unir forças e formar a associação em 1987, sendo formalizada em 1989. Perceberam que o poder do coletivo lhes fortaleceria frente às adversidades e assim foi. Com profundo senso de coletividade e cooperativismo imbuído na postura e falas das associadas, as mulheres de Lagoa do Carro tiveram importantes conquistas e fortaleceram a estrutura social e política da comunidade.
Segundo Isabel, que está desde a fundação do grupo, a produção artesanal é tão importante como geração de renda, especialmente em lugares desassistidos pelo governo e carentes de oportunidades de emprego, pois conseguem associação a vida cotidiana, o cuidado da casa e dos filhos, ao trabalho.
A associação tem sede própria à margem da PE-090 com vista para a lagoa que dá nome à cidade. É mantida pelas próprias tapeceiras e funciona de domingo a domingo, exibindo os tapetes que contam ponto a ponto histórias de vida, segredos, necessidades e conquistas de cada uma que produz.
Onde criam?
Localizada a 60 km de Recife, na Zona da Mata Norte do estado, desde a chegada dos primeiros colonizadores europeus Lagoa do Carro teve sua economia baseada no cultivo da cana de açúcar e outras atividades rurais. Porém a partir da segunda metade do século XX, já após o declínio das atividades açucareiras, a agricultura de subsistência teve como complemento a fonte proveniente da tapeçaria. A atividade teve papel fundamental na configuração social, uma vez que a maioria da população passou a integrar o conjunto de tapeceiras, que fornece seus produtos para lojistas em todo território nacional.
Lagoa do Carro tem sua história recente emaranhada à história da tapeceiras, que organizadas, fortaleceram e possibilitaram a emancipação política do município em 1991, da hoje conhecida Terra dos Tapetes.
Além de importante fonte de renda, a atividade provoca modos de vida particulares de relação com o tempo e espaço onde estão inseridas as artesãs, que costumam trabalhar em conjunto. Nas palavras de Risolane, vemos o entrelaçamento das histórias das ruas e da gente que faz a cidade. Ela diz: “Gosto muito dessa coisa da rua, porque a rua não é só a rua pelas pedras, as ruas são as pessoas, são as pessoas que vão que vem, é o seu amor impresso que fica ali, então assim a rua é bem mais que o paralelepípedo, ela traz consigo as lembranças. Quando você coloca o pé na rua que você gosta muito você lembra de muita coisa”.
Rede nacional do artesanato
cultural brasileiro
